Apesar da recessão provocada pela pandemia da covid-19 encolher as trocas comerciais em 9,2%, segundo estimativas da Organização Mundial do Comércio (OMC), a balança comercial brasileira encerrou 2020 no azul, ainda que com resultado abaixo das expectativas do mercado.
Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia divulgados nesta segunda-feira (4/01), o país registrou um superavit comercial de US$ 51 bilhões no acumulado em 12 meses, dado 6,2% superior aos US$ 48 bilhões contabilizados em 2019, em termos nominais.
Esse superavit comercial é o mesmo registrado em novembro e é o terceiro maior da série histórica iniciada em 1989. O saldo é positivo quando os embarques superam os desembarques. A soma deles é a corrente de comércio, que totalizou US$ 368,8 bilhões em 2020, o menor resultado desde 2017.
Queda nas exportações e nas importações
Os números da Secex mostram que tanto as importações quanto as exportações registraram queda em 2020. Os embarques somaram R$ 209,9 bilhões, dado 6,8% inferior aos US$ 225,4 bilhões computados em 2019. Enquanto isso, os desembarques desabaram 10,3%, na mesma base de comparação, totalizando US$ 158,9 bilhões. Pela média diária, a queda nas exportações foi de 6,1%, e a das importações, de 9,7%.
Herlon Brandão, subsecretário de Inteligência e Estatística de Comércio Exterior do Ministério da Economia, destacou que o resultado "ficou em linha com as previsões do governo". No entanto, o resultado frustrou as projeções do mercado. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), por exemplo, estimava um superavit comercial de US$ 51,9 bilhões.
Para 2021, a Secex prevê aumento de 5,3% nas exportações brasileiras, para US$ 221,1 bilhões e alta de 5,8% nas importações, para US$ 168,1 bilhões. Com isso, o saldo comercial estimado é de US$ 53 bilhões, dado 3,9% superior ao resultado de 2020. Essa estimativa está modesta se comparada com a projeção da AEB, que espera um saldo positivo recorde de US$ 69 bilhões.
Em dezembro, o saldo comercial da balança brasileira ficou negativo em US$ 43 milhões. As exportações somaram US$ 18,4 bilhões e registraram queda de 5,3% em relação à média diária de 2019. Já as importações cresceram 39,9% na mesma base de comparação, totalizando US$ 18,4 bilhões. Com isso, o saldo comercial foi praticamente zero, contra o superavit de US$ 5,9 bilhões contabilizado no último mês de 2019.
Um dos principais produtos das exportações brasileiras, a soja, registrou aumentos de 10,5%, em valor, e de 13% na quantidade, mas queda de 2,2% no preço. O minério de ferro apresentou alta de 16,7% no preço, mas queda de 2% na quantidade e alta de 14,3% no valor exportado. Óleos de petróleo ou de minerais betuminosos apresentaram alta de 18,5% na quantidade exportada, mas quedas de 31,6% no preço e de 18,9% em valores. De acordo com o subsecretário, o aumento da demanda por petróleo com menos enxofre na composição tem contribuído para o aumento das exportações brasileiras do produto, que apresentaram um volume recorde de US$ 19,5 bilhões embarcados para China, Estados Unidos, Índia e Espanha.
Na contramão, os embarques de veículos e de aeronaves desabaram tanto em valores quanto em quantidade em taxas superiores a 20% e 30%, respectivamente, refletindo a queda na demanda por produtos manufaturados brasileiros nos principais destinos, como Estados Unidos e Argentina.
Brandão informou que a forte alta das importações em dezembro, de quase 40%, foi puxada pela inclusão das importações contábeis de plataformas de petróleo, antecipando o fim do Repetro, regime especial que beneficiava fiscalmente a exportação dessas plataformas no passado. Segundo ele, foram contabilizadas cinco plataformas em dezembro, totalizando US$ 4,7 bilhões.
“Agora passa a vigorar o novo regime Repetro-Sped, que abre a possibilidade para que esses bens fossem nacionalizados com benefício tributário, porque agora, elas podem transitar com os mesmos benefícios”, explicou.
Parceiros comerciais
A China continuou sendo o principal parceiro comercial brasileiro, apresentando crescimento de 7,3% nas exportações brasileiras para o país asiático, que foi o destino de 33,4% dos produtos nacionais embarcados em 2020. As exportações brasileiras para a China no acumulado de janeiro a dezembro passaram de US$ 65,8 bilhões, em 2019, para US$ 70,1 bilhões, em 2020.
Os embarques para Estados Unidos, Argentina e União Europeia (UE) que são importadores de produtos de maior valor agregado do que os destinados para a China, registram quedas de 27,2%, 12,7% e 13,3%, respectivamente.
Lucas Ferraz, secretário de Comércio Exterior, tentou minimizar essa queda e garantiu que não é uma perda definitiva de mercado. “Todos os países tiveram problemas na pandemia, mas acredito que essa perda de mercado em destinos tradicionais e o crescimento relativo das exportações para a Ásia, principalmente, a China, é muito mais em função da dinâmica de recuperação dessas economias da pandemia. Como a China se recuperou mais cedo, é natural que o Brasil, que tem vantagens comparativas de produtos consumidos pelos chineses”, destacou.
De acordo com o secretário, os principais destinos dos produtos de maior valor agregado estavam muito tempo atingidos pela pandemia e a recuperação foi refletida no padrão das exportações no terceiro e no quarto trimestres. “Entendemos como uma situação atípica e acreditamos que o Brasil volte a recuperar mercado nestes destinos”, garantiu ele, minimizando o fato de o país continuar perdendo competitividade no comércio global de produtos manufaturados, especialmente, devido à elevada carga tributária e à logística ineficiente do país que, em média, pesam 30% no preço do produto nacional, conforme dados de especialistas do setor.
Ferraz ainda destacou as mudanças das previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) global e das quedas nas trocas comerciais, que ficaram menos piores, como é o caso da expectativa de queda do comércio mundial feita pela OMC, que esperava uma retração de 32%, em abril, para 9,2%, em outubro. O secretário citou projeções do Banco Central para o crescimento da economia brasileira neste ano, de 3,8%, enquanto a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), estima avanço de 4,2% no PIB global.