Diante das incertezas sobre o rumo da economia brasileira, os estrangeiros reduziram em mais da metade os investimentos diretos realizados no Brasil. Dados divulgados nesta quarta-feira (27/1) pelo Banco Central (BC) explicam que o Investimento Direto no País (IDP) somou US$ 34,2 bilhões em 2020. O resultado é o menor desde 2009 e é 50,5% menor que os R$ 69,2 bilhões que ingressaram no país em 2019.
O IDP representa os investimentos produtivos realizados por estrangeiros no país, como os investimentos fabris, e estão em queda desde meados do ano passado. Essa queda, no entanto, se acentuou no fim do ano. Em dezembro de 2020, por exemplo, os ingressos líquidos em investimentos diretos somaram US$ 739 milhões, menos de um terço dos US$ 2,8 bilhões observados no mesmo mês de 2019.
Por conta desse baque, o resultado do IDP em 2020 foi menor do que o previsto pelo BC, que já havia reduzido de US$ 50 bilhões para US$ 36 bilhões a projeção para o indicador no fim do ano passado, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Na apresentação do RTI, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, explicou que o ingresso de investimento direto depende da confiança do investidor de longo prazo, que caiu diante das incertezas fiscais do Brasil. Por isso, disse que "o governo precisa mostrar um caminho para a política fiscal para (o investidor) ter mais credibilidade".
Nesta quarta-feira, o BC acrescentou que duas cifras chamam a atenção no recuo de US$ 35 bilhões do IDP observado em 2020. É a redução de US$ 19,1 bilhões em ingressos por lucros reinvestidos, que despencou de US$ 20,8 bilhões, em 2019, para US$ 1,6 bilhão, em 2020; e a diminuição de US$ 14,8 bilhões em ingressos para participação no capital exceto lucros reinvestidos, que passou de US$ 42,9 bilhões, em 2019, para US$ 28,1 bilhões, em 2020.
Investimentos em carteira
Os investimentos em portfólio também caíram em 2020. Segundo o BC, foi registrada uma saída líquida de US$ 8,5 bilhões nos investimentos em carteira negociados no mercado doméstico. Isto é, uma saída 27% maior que a registrada em 2019, de US$ 6,7 bilhões. O BC destacou, por sua vez, que essa saída foi puxada pelos investimentos em ações e fundos de investimento, pois os títulos de dívida negociados no país apresentaram ingressos líquidos de US$41 milhões em 2020.
Contas externas
O resultado do investimento direto e dos investimentos em carteira realizados no país em 2020 consta na nota do setor externo do BC, que também aponta para um deficit de US$ 12,5 bilhões das transações correntes do país. O resultado também é menor que o de 2019, quando o deficit corrente foi de US$ 50,7 bilhões, pois, ao longo da pandemia de covid-19, o Brasil registrou oito meses consecutivos de superavit nas transações correntes.
Segundo o BC, o resultado das transações correntes e 2020 é um reflexo da redução dos deficits em renda primária e em serviços. O deficit em renda primária caiu 33,3%, saindo de US$ 57,3 bilhões em 2019 para US$ 38,2 bilhões em 2020. O recuo se deve a menores despesas líquidas de lucros e dividendos; e a menos receitas de lucros e despesas, evidenciando, de acordo com a autoridade monetária, "os efeitos da pandemia global sobre a lucratividade das empresas".
O deficit em serviços recuou 43,2%, passando de US$ 35,1 bilhões em 2019 para US$ 19,9 bilhões em 2020. Neste caso, a redução se deve à redução dos gastos dos brasileiros no exterior. As despesas líquidas de viagens, por exemplo, desabou 79,7%, devido às restrições impostas à circulação no exterior na pandemia de covid-19 e à alta do dólar.
A balança comercial, que representa a terceira conta do balanço de pagamentos, por sua vez, teve resultado positivo em 2020, já que as exportações brasileiras cresceram em 2020, impulsionadas pelo agronegócio e pela China. Segundo o BC, o superavit comercial de bens cresceu US$ 2,8 bilhões em 2020. O resultado da balança comercial, portanto, foi positivo em US$ 43,2 bilhões, reflexo de US$ 210,6 bilhões de exportações e de US$ 167,4 de importações.
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