O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, renunciou ao cargo porque não vê espaço para a privatização da empresa durante o governo de Jair Bolsonaro. Ele explicou que, apesar de defendido pelo governo federal, o projeto não ganhou "tração" e não desfruta de "capital político" para avançar no Congresso Nacional.
À frente da estatal desde 2016, Ferreira Junior renunciou ao cargo nesse domingo (24/1) e admitiu que foi a falta de perspectiva em relação à desestatização da Eletrobras que o fez trocar a estatal pela BR Distribuidora. O executivo falou sobre o assunto na tarde desta segunda-feira (25), durante call com investidores e com a imprensa. "Não conseguimos ver a tração que esse processo deveria ter. É uma percepção pessoal e, em cima dele, tomei essa decisão", afirmou.
Wilson Ferreira Junior lembrou que o projeto de privatização da Eletrobras foi apresentado ainda no governo de Michel Temer, que, no entanto, não conseguiu destravar a iniciativa. E disse que continuou no cargo, durante o governo de Jair Bolsonaro, porque recebeu do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o compromisso de avançar com o assunto.
O novo projeto de privatização da Eletrobras, apresentado em novembro de 2019, contudo, também não conseguiu caminhar no Congresso, por conta da pandemia de covid-19, no ano passado. E já há indicações de que nada deve mudar em relação ao assunto neste ano, pois o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que hoje está na frente da disputa pela presidência do Senado, já disse que esta não é uma das suas prioridades.
O presidente da Eletrobras avaliou, então, que, se não está nas prioridades do Congresso, a privatização da Eletrobras corre o risco de não andar nem neste ano, nem no próximo, já que 2022 é um ano de eleição, em que os parlamentares não costumam debater assuntos que ainda sofrem algum "tabu", como o das privatizações. Ele lembrou, inclusive, que decisões dessa envergadura demandam "grande capital político" e, por isso, costumam ocorrer nos dois primeiros anos de mandato.
"O quarto ano é o ano em que começa a discussão para a eleição. E, como este é um assunto não muito digerido pelo Congresso, fica muito difícil se não for uma prioridade agora. Se não for julgado rapidamente no Congresso neste ano, passaria para o ano que vem e encontraria dificuldade", analisou. "Não posso ter certeza que vai ser debatido no Congresso", concluiu.
Ferreira Junior garantiu, por sua vez, que esta é uma avaliação pessoal e assegurou que há compromisso dos ministros de Minas Energia, Bento Albuquerque, e da Economia, Paulo Guedes, com o assunto. Ele contou que, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro também sinalizou apoio à ideia, mas admitiu que, diante desse cenário, seria bom que o chefe do Executivo voltasse a sinalizar favoravelmente à privatização. "Para que tenha um reforço da mensagem, é importante que se envolva também", afirmou.
"O processo continua sendo uma prioridade do governo federal. Eu é que, pessoalmente, até pela dificuldade de quase cinco anos de trabalho cansativo, difícil, tomei a decisão de aceitar uma nova oportunidade", declarou o executivo. Ele concluiu que, apesar de todas essas dificuldades, não é uma certeza que o processo de privatização continuará emperrado e disse que, por conta disso, vai continuar trabalhando em prol do projeto, como conselheiro da estatal.
O executivo vê a privatização como uma forma de ampliar a capacidade de investimento da Eletrobras, reduzir as tarifas da energia elétrica no país e melhorar a situação fiscal do país. Porém, garantiu que, hoje, a estatal já não está mais em crise, como estava em 2016, já que passou por um processo de reestruturação e aumento da competividade nesse período. "A companhia teve quase R$ 11 bilhões de lucro no ano passado. É uma companhia revigorada, com eficiência aumentada. Mas pode fazer mais", avaliou.
Sucessor
Além de levantar dúvidas sobre a privatização da Eletrobras, a renúncia de Wilson Ferreira Junior também deu início às negociações em torno do nome que deve comandar a estatal a partir de agora. Já há nomes de militares cotados para o cargo e o mercado também teme que o posto seja negociado com o Centrão, em troca de apoio ao Palácio do Planalto no Congresso Nacional. Questionado sobre o assunto por jornalistas, o atual presidente da empresa, no entanto, tentou descartar essa possibilidade.
Ele disse que, hoje, o risco de politização é baixo dentro da empresa, pois a estatal tem privilegiado os profissionais de carreira na escolha do alto escalão. "Temos na Eletrobras profissionais capazes de me suceder com grande qualidade, alguns até com experiência maior na Eletrobras", afirmou. Ele destacou, ainda, que vai conduzir o processo de transição com o seu sucessor, junto com um conselho de transição.
Em call com investidores, o executivo ainda defendeu a escolha de um "perfil de executivo do setor da energia elétrica, uma pessoa que tenha capacidade de entender o negócio, já que estamos em um momento importante de modernização do setor e o entendimento disso é fundamental para que a pessoa tenha capacidade de governança". Porém, admitiu que esse executivo precisa ter muita perseverança para que projetos como o da privatização aconteçam.
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