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"Ford tem a intenção de transformar linha de produção", diz Favetti

Cientista político explicou que saída da fábrica do Brasil está ligada à estratégia da multinacional americana de produzir carros de portes maiores e com maior valor agregado. Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores, também participou do debate do Correio

Edis Henrique Peres*
postado em 12/01/2021 18:17 / atualizado em 12/01/2021 18:19
 (crédito: Correio Braziliense)
(crédito: Correio Braziliense)

O anúncio da saída da Ford do Brasil, depois de 102 anos no país, reacendeu a discussão sobre reforma tributária. Apesar de discussões sobre o tema, o cientista político Rafael Favetti aponta que a decisão da multinacional americana é voltada para as mudanças na linha de produção da empresa. “A Ford tem intenção de transformar a sua linha de produção no mundo e se voltar para carros de luxo e de grande porte”, afirma.

Favetti não acredita que a oferta de algum subsídio seria o suficiente para manter a empresa no país. “Se a Ford começasse a ter altos lucros nos carros que vende aqui, ela evidentemente teria adiado essa decisão. Mas essa escolha já foi tomada há muito tempo e diz respeito à troca dos produtos que a Ford vai oferecer para seus clientes”, esclarece.

O cientista político participou nesta terça-feira (12/1) de debate no CB.Poder — uma parceria do Correio Braziliense e da TV Brasília. No programa, que contou ainda com a presença de Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores, Favetti afirmou que a decisão da empresa levou pelo menos 5 anos para ser tomada.

“Obviamente essa decisão pegou grande parte das pessoas de surpresa, pois a empresa tem uma história para o capitalismo mundial, e representa uma simbologia muito forte. E o impacto da saída da empresa, que vai demitir cinco mil empregados diretos, é gigantesco. E somado a isso temos a questão da pandemia, que dificulta por si só a retomada econômica no Brasil”, explica.

Para Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores, o motivo da saída da Ford não foi somente questões tributárias e subsídios. “O benefício fiscal no qual a Ford era beneficiada na Bahia era extremamente alto e até mesmo difícil de alguma empresa ganhar isso hoje. O que poderia ser feito eram algumas mudanças estruturais para que houvesse maior competitividade da cadeia, mas temos informações que o governo da Bahia tem procurado soluções, inclusive oferecendo a fábrica de Camaçari para indústrias chinesas, para que não seja perdido a infraestrutura montada no local”.

Segundo a avaliação dos especialistas, o maior desafio para a multinacional é o fato de que as fábricas da Ford — em Camaçari (BA), onde produz os modelos EcoSport e Ka, Taubaté (SP), que produz motores, e Horizonte (CE), onde são montados os jipes da marca Troller — estavam em regiões do país carentes de políticas públicas e da presença do Estado. “Esses lugares sentem ainda mais a perda de postos de trabalho, pois dificilmente serão repostos”, afirma o CEO.

Reforma tributária

Favetti explica que uma das principais dificuldades para as indústrias é o imposto estadual, o chamado ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação). “Os impostos nacionais não são o grande problema, pois a Receita Federal brasileira é muito tranquila em relação a sua burocracia e está presente na internet, mas os impostos estaduais são uma dificuldade”, destaca.

O especialista diz que diariamente há novas instruções normativas e que falta uma previsibilidade para atrair investidores. “Toda reforma tributária em um universo federalista como o nosso, quando modifica impostos que sustentam os estados, enfrenta dificuldade. Falta uma atitude do governo central para encontrar um denominador comum e estabelecer para os estados quais serão os ganhos e perdas e se entrar em um consenso”, opina.

Apesar da situação complexa, Wagner Parente ressalta que em alguns setores o Brasil consegue atrair bons investidores. “Um exemplo são os investimentos para as concessões, que sempre atraem bastante recursos. Obviamente, alguns setores possuem mais dificuldade, especialmente a indústria, que sofreu muito nos últimos anos”. 

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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