O diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, reforçou nesta terça-feira (12/1) que a taxa básica de juros (Selic) deve voltar a subir neste ano, saindo da mínima histórica de 2% ao ano. Porém, indicou que, mesmo diante da alta da inflação, esse debate só deve ganhar força só depois que o cenário político indicar qual será o rumo da política fiscal brasileira.
"A taxa de juros estrutural da economia brasileira não é 2%. Não é a taxa em que o Brasil vai conviver em situações normais. É o nível que o Banco Central precisou colocar para perseguir a meta de inflação em um ambiente bastante típico", disse Bruno Serra, em live realizada com o mercado financeiro nesta terça-feira.
Ele acrescentou que esse nível de estímulo é adequado para o momento atual, por conta das incertezas trazidas pela pandemia de covid-19, mas lembrou que as projeções econômicas já sugerem uma "normalização desse nível de juros". "É natural esperar que o estímulo extraordinário vai sair de cena em algum momento, mesmo em uma economia que opere com hiato, como operava no pré-pandemia", avisou.
Serra indicou, contudo, que o ajuste da Selic não deve começar já na primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para a próxima semana. "É um debate que vai acontecer no devido tempo, ao longo dos próximos trimestres. O debate já está ocorrendo no mercado e é natural que ocorra do nosso lado também", destacou, ressaltando que o momento atual ainda parece ensejar um estímulo monetário extraordinário.
Também contribui com a expectativa de que o Copom vai esperar um pouco mais para agir o fato de que ainda há muitas incertezas sobre as variáveis que podem afetar a inflação e os juros neste início de ano. Serra lembrou, por exemplo, que o rumo fiscal do país só deve ficar claro após a votação do Orçamento de 2021, que vai ocorrer após a eleição dos próximos presidentes da Câmara e do Senado. Por isso, enfatizou que é preciso monitorar o cenário político para entender a situação fiscal, que, vem dizendo o Copom, é fundamental para a manutenção dos juros baixos e do forward guidance — a prescrição de que a Selic não será elevada no curto prazo.
"O debate fiscal está ocorrendo. Quando ele terminar e ficar claro, a gente vai colocar nas contas e avaliar todo o entorno, o contexto em que isso ocorre, e avaliar quais as melhores decisões de política monetária", disse Serra. Ele destacou ainda que o BC é um espectador desse debate, que é político.
Futuro
O BC ainda acompanha a recente alta do câmbio e das commodities, que superaram a expectativa dos agentes neste início de ano e pode impactar a inflação, bem como a evolução da pandemia de covid-19. Serra acredita, por sua vez, que o recrudescimento da pandemia não deve impactar a economia brasileira de forma tão negativa como ocorreu no início da doença, em março do ano passado.
"A gente está em um ambiente de dificuldade de prever o futuro, mesmo o futuro mais imediato. A incerteza fiscal ainda é uma incerteza bastante relevante, sem falar na direção da política de saúde, de pandemia, como a mobilidade vai reagir a tudo isso", pontuou o diretor.
Por conta disso, a XP, que hospedou a live com Serra nesta terça-feira, portanto, projeta que o forward guidance só deve cair em março, para que a Selic comece a subir no segundo semestre. Porém, indicou que surpresas no câmbio podem ensejar ajustes nesse cenário.
Serra lembrou, então, que a retirada do forward guidance já está sendo precificada pelo mercado e deve ser discutida nas próximas reuniões do Copom. "Se tiver uma subida forte das projeções e expectativas, é natural que seja mais próximo o fim do forward guidance", afirmou. Ele lembrou, por sua vez, que a alta dos juros não é automática após a retirada do forward guidance e vai depender da conjuntura.
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