A alta de 1,06% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de dezembro ficou abaixo das estimativas do mercado, que esperava variação de 1,17%, no mês, e de 4,35%, no acumulado do ano.
O resultado reduziu, em parte, a preocupação com a retomada do ciclo de alta de juros logo no começo de 2021. A possibilidade de elevação de juros foi indicada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que sinalizou a possível retirada do foward guidance, instrumento de gestão utilizado desde agosto para indicar manutenção da taxa básica, a Selic.
Um ponto positivo apontado por analistas foi o enfraquecimento no índice de difusão do IPCA-15, que passou de 66,5%, em novembro, para 63,2% neste mês.
William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, avaliou que a inflação “já ultrapassou seu pico”, e, juntamente com novos casos da covid-19, “pode retardar a recuperação econômica” em 2021. O analista aposta em uma política monetária menos agressiva, com início de alta da taxa Selic de 0,50 ponto percentual apenas no segundo semestre de 2021.
A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), disse que, após o IPCA-15 ficar abaixo das expectativas em dezembro, a inflação não é um problema para a condução da política monetária no início do ano que vem, enquanto, lá fora, os juros estão mais perto de zero ou negativos.
“Não há um grande volume de repasses para os núcleos de inflação, principalmente do setor de serviços. O choque poderia ser maior, mas a dúvida sobre o aumento das pressões inflacionárias em 2021 continua”, afirmou Silvia. Ela acrescentou que a preocupação com a inflação precisa continuar no radar, porque a alta na Selic contamina negativamente as expectativas do lado fiscal, e isso piora o cenário de retomada.
Na avaliação do economista Alberto Ramos, chefe da área de pesquisas econômicas sobre América Latina do Goldman Sachs, apesar do conforto do BC no curto e no médio prazos, “a recente dinâmica da inflação requer monitoramento para sinais de efeitos de segunda ordem e generalização das pressões inflacionárias”.
A mediana das estimativas do mercado para o IPCA de 2020, medida pelo boletim Focus, está em 4,39%, acima do centro da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4%, com teto de 5,5%. Para dezembro, o mercado prevê alta de 1,22% no custo de vida oficial. (RH)