Após semanas de otimismo, com expectativas por vacinas e pelo pacote de estímulos econômicos nos Estados Unidos, a bolsa pisou no freio. Isso porque uma mutação do novo coronavírus, que pode ser até 70% mais contagiosa, foi identificada no Reino Unido, o que acionou o alerta dos investidores. Eles então passaram a assistir atentamente ao fechamento de fronteiras e novos lockdowns na Europa.
A bolsa brasileira, que tem sido extremamente dependente do capital estrangeiro, sentiu a pressão. O índice Ibovespa, que chegou a encostar nos 119 mil pontos na semana passada e se aproximou da máxima histórica, fechou o dia de ontem na casa dos 115 mil pontos. Nesta terça-feira (22), o dia foi de tensão, mas a bolsa conseguiu recuperar algum fôlego e encerrou o pregão em alta de 0,7%, aos 116.636 pontos.
No dólar, a cautela pôde ser vista mais nitidamente. A moeda americana, que flertou com um patamar abaixo dos R$5 na semana passada e esteve em seu menor nível desde o início da pandemia, voltou aos R$5,16, com variação positiva de 0,763%. Ao longo do dia, chegou a ser negociada a R$5,17.
Tendência de alta
Para Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, a bolsa tinha tudo para encerrar o ano com a tendência de alta observada nas últimas semanas, frente às novidades sobre o pacote nos EUA e o avanço nas negociações do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia).
"O problema é que o covid resolveu aprontar no fim do ano. Identificou-se essa mutação e aí não tem jeito. Já se sabia que a vacina não seria amplamente aplicada no mundo no primeiro trimestre de 2021, mas esperava-se que fosse um trimestre de recuperação. Mas como a propagação dessa mutação, essa previsão pode ir para o buraco, porque é preciso fazer lockdown para tentar diminuir o número de mortes", detalha.
Essa possibilidade, segundo ele, assustou o mercado. Isso se somou ao número de pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos que aumentou na semana passada e aos indicadores econômicos ruins na Europa — onde o Índice Gerente de Compras (PMI), que mede a temperatura da atividade empresarial, mostrou um encolhimento.
"Diante desses fatos, é natural que o mercado tenha que ajustar os valores dos ativos de risco. Opções como Bitcoins e outras criptomoedas têm sido procuradas, por não estarem atrelados a fatores que têm gerado risco. O ouro também está subindo. Então o que a gente vê é correção, mas principalmente maior aversão a risco", afirma. Vale lembrar que quando a aversão a risco aumenta, os investidores optam por ativos de segurança, como é o caso do dólar e ouro. É por isso que a moeda americana se valoriza frente ao real em situações de crise, especialmente quando se fala de riscos fiscais.
Franchini acredita, no entanto, que esse baque deve diminuir em um período de duas semanas. Isso porque a economia de países emergentes continua tendo bom upside — termo utilizado para investimentos ou ativos com alto potencial de valorização. Isso significa que quem compra ações em países como o Brasil pode lucrar com a recuperação econômica esperada para os próximos meses, com a chegada das vacinas e o retorno da normalidade nas atividades.
"Daqui a 15 dias pode ter uma força moderada comprando. Obviamente para o Brasil, tem a questão fiscal sendo colocada para escanteio, porque vai ter eleição na Câmara e Senado. Então vão deixar isso de lado. Eu chutaria essa discussão aí para março. Se houvesse conversas sobre o fiscal aqui, ou um acordo, isso animaria o investidor. Mas isso está estagnado. O que sustentou o Ibovespa hoje foram os papéis de bancos, com a tendência de resultados melhores para 2021", pontua.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza