Desde o século passado, o imaginário popular criou uma imagem para o futuro tecnológico. Na década de 1960, a animação Os Jetsons previu grande parte dos dispositivos e aplicações que, atualmente, fazem parte do dia a dia dos brasileiros, como smartphones capazes de realizar videochamadas, relógios e casas inteligentes, assistentes virtuais e robôs que fazem as tarefas domésticas, como o aspirador autônomo, sucesso de vendas no país. Tais inovações já são realidade, mas vão ganhar nova dimensão quando a tecnologia 5G, com leilão previsto para 2021, consolidar-se no Brasil.
Para entender o que os consumidores esperam das inovações na próxima década, a Ericsson ConsumerLab realizou a pesquisa Hot Consumer Trends 2030, que ouviu mais de 15 mil pessoas, entre 15 e 69 anos, em 15 grandes cidades do mundo, incluindo São Paulo. A conclusão é de que os robôs inteligentes, apelidados de bots, assumirão papel mais importante na vida cotidiana até 2030.
Segundo o levantamento, para 91% dos paulistanos, os smartphones serão capazes de alertar sobre temporais ou rajadas de calor, compartilhando dados com dispositivos pessoais de outras pessoas. Um serviço de vigilância eletrônica que proteja as casas e alerte outros sistemas de segurança na vizinhança para impedir invasões é a aposta de 86% dos entrevistados. Além disso, 87% acreditam em sistemas automatizados de gestão financeira que consigam explicar como os investimentos estão sendo administrados.
Para outros 80% dos paulistanos ouvidos, até 2030, existirão medidores inteligentes capazes de calcular a eletricidade usada para realização do home office. Chama a atenção, ainda, a menção de 51% dos moradores da capital paulista sobre a expectativa de terem, na corrente sanguínea, nanobots que aprendem como combater o câncer e lutam contra novos vírus, trocando dados com bots de outras pessoas.
Oportunidades
Os dados da pesquisa indicam oportunidades para os provedores de serviço 5G expandirem gradualmente as redes inteligentes a fim de atender às necessidades dos clientes. Isso porque todos os bots identificados no estudo da Ericsson se baseiam na comunicação inteligente entre dispositivos.
Vinicius Fiori, gerente de Marketing da Ericsson, avalia que a pandemia do novo coronavírus descortinou a importância da conectividade. “Robôs aspiradores de pó, casas inteligentes, assistentes virtuais como a Alexa da Amazon, isso tudo é realidade. A diferença é que não se enxerga mais o robô como aquele do desenho animado, mas como bots que podem estar em todos os lugares, numa lâmpada, por exemplo”, ressalta.
Isso é reflexo de uma combinação de inovações, como Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial (AI), realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR). Todas tecnologias que vão ganhar amplitude com o 5G. “O 4G fez coisas incríveis: hoje, dá para fazer tudo pelo celular. Mas, o 5G vai trazer uma realidade aumentada, ambientes completamente digitais”, diz.
Segundo Fiori, daqui a cinco anos, existirão mais de 35 bilhões de dispositivos conectados no planeta — sete por pessoa. “O que existe, hoje — televisão, relógio e pequenos sensores — é muito pouco diante do que virá”, diz.
O gerente da Ericsson aposta, por exemplo, no retorno da relevância da voz. “Antes, as ligações eram tudo, depois, passou-se a utilizar mais textos nas mensagens. Não é que as pessoas não quisessem falar. Queriam facilidade. Agora, não vão querer escrever ‘acenda minha luz’, então, estamos vendo a volta da importância da voz, sobretudo com os assistentes virtuais e a IoT”, analisa.
Para Luiz Carlos Pires, 33 anos, gerente de marketing digital, a economia de tempo que as inovações e a conectividade permitem as tornam imprescindíveis. “Nada do que eu já uso seria possível sem o 4G. Carro compartilhado, streaming. Hoje, não é mais questão de ter, mas de usar. Tudo vira assinatura e serviço. Não preciso comprar. Tudo que eu uso de tecnologia, dispositivos, aplicações, coopera para eu otimizar meu tempo”, conta.
“O 5G vai revolucionar tudo. Vai ser uma mudança muito grande de patamar. O carro autônomo vai ser realidade, meios de entrega autônomos”, diz ele, que já é um expert em inovações. “Eu uso tudo que existe, tenho robô aspirador de pó, robô que reduz o custo fixo de energia, com luzes conectadas, câmera de segurança em casa que me atende por voz a distância e gira 180 graus para cima e 360 nas laterais. Além da Alexa”, elenca.
O fotógrafo, cinegrafista e microempresário Luiz Marcelo Pouciano, 38, morador de Cuiabá, também é um superconectado. “Meu trabalho é 100% on-line. Eu uso videoconferências para fazer reuniões, minha tevê é conectada na internet. Muitas coisas que se imaginava que iriam vir, já são realidade para mim”, conta. Como trabalha com imagens na rede, o 4G ainda é muito lento. “O 5G promete velocidades que vão mudar meu trabalho. Um download que demora 20 minutos vai levar 30 segundos”, estima.
A expectativa de Luiz Marcelo é usufruir da agilidade que a tecnologia 5G vai dar aos dispositivos que já existem. “Com a velocidade e precisão, não vai ser mais a questão de uma geladeira inteligente dizer o que falta na sua despensa, mas fazer a lista, enviar ao supermercado e, quando chegar em casa, encontrar a entrega”, prevê.