CONJUNTURA

CBIC: maior preocupação da construção civil para 2021 é o desabastecimento

Apesar do nível de atividade no mesmo patamar de 2007, o setor foi o que mais gerou empregos em 2020. Alta no preço dos insumos de janeiro a novembro foi de 17,72%, a maior do período pós-real

O Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil no terceiro trimestre de 2020 está no mesmo patamar do observado no início de 2007. As atividades do setor estão 36% abaixo do pico de 2014, quando atingiram seu melhor nível. “O principal motivo para o desemprenho era o preço do dólar. O real já se valorizou, mas os preços dos subprodutos continuam crescendo. Não há previsão contatual que dê conta desse aumento. O desabastecimento é preocupante porque inibe as empresas de lançarem (unidades)”, reclamou José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), ao apresentar a retrospectiva sobre o desempenho do setor em 2020 e as projeções para 2021.

De acordo com empresários do setor, com base em sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC, em 2020, a falta de matéria-prima foi o grande desafio e o principal problema enfrentado, principalmente no terceiro trimestre do ano, para o setor em 2020, quando o custo subiu 39,2%. Apesar disso, a construção foi o setor que mais gerou empregos no país nos primeiros 10 meses de 2020, com a criação de 138.409 vagas formais, de acordo com dados do Ministério da Economia. Esse é o melhor resultado para o período desde 2013, quando a construção gerou 207.787 novas vagas, informou a CBIC.

Pelos dados da Câmara, desde o início da pandemia de covid-19, a indústria da construção ganhou destaque pela rápida adoção de práticas de segurança e proteção sanitária de seus trabalhadores. “Foi uma grande vitória setorial. A entidade instrumentalizou associados, que discutiram em termos locais, em todo o país, a necessidade de manutenção dos empregos, atendendo a todas as recomendações e protocolos sanitários”, destaca a CBIC.

Investimentos

De acordo com o INCC-Materiais e Equipamentos, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a alta de preços no período de janeiro a novembro foi de 17,72%, a maior do período pós-real. Alguns insumos chegaram a registrar aumentos superiores a 50% no mesmo período. No 3º trimestre de 2020, a taxa de investimento do Brasil em relação ao seu PIB foi de 16,2%. Em outros países, ela é bem superior. China, Espanha, Austrália, Canadá, Chile, França e Uruguai já apresentaram, por exemplo, taxas de 42,84%, 20,02%, 23,31%, 22,1%, 22,44%, 23,63% e 17,18%, respectivamente. Na última década (2010-2019), a construção no Brasil foi responsável por cerca de 50% dos investimentos.

Em 2019, esse número foi de cerca de 44%. A CBIC também apresentou uma análise da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) de Brasil, Canadá, Portugal, Colômbia, Espanha, Israel e México, verificando que é no Brasil que a construção tem a menor participação no indicador. No Canadá, a participação da construção na FBCF é de 69,25%, em Portugal 52%, na Colômbia 62,65%, na Espanha 49,87%, em Israel 53,16% e no México 55,69%. No Brasil, a participação da construção na FBCF é de 44,16%. Assim, o país que possui a menor participação da construção na FBCF é, justamente, o país que também possui, nessa comparação, a menor taxa de investimento.

Expectativas e projeções

De acordo com a Sondagem da Indústria da Construção, os empresários do setor têm expectativas positivas para os próximos seis meses. Os resultados do trabalho sinalizam aumento na compra de insumos e geração de novas vagas. Os índices de expectativa também demonstram que os empresários estimam o aumento do nível de atividade e um maior volume de lançamentos de novos empreendimentos e serviços.

A perspectiva é que a economia brasileira encerre o ano de 2020 com queda de 4,41% no PIB. A retração aguardada para a construção no ano é de 2,8%. Para 2021, as expectativas para o país são positivas: é aguardada uma expansão de 3,5% para a economia brasileira. De acordo com projeções da CBIC, a construção deverá incrementar 4% em seu PIB, o que seria o maior crescimento do setor desde 2013 (4,5%). O risco para esse desempenho é o desabastecimento.

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