Mercado financeiro

Ibovespa fecha acima de 117 mil pontos após aprovação da LDO

Valorização das commodities e avanço nas negociações entre Reino Unido e União Europeia pelo Brexit também reverberaram aqui e potencializaram a alta

O índice Ibovespa registrou mais um dia de alta: fechou o pregão aos 117.857 pontos, com alta de 1,47%. O dólar, por sua vez, subiu e foi a R$5,10, com alta de 0,34%. O dia teve fatos importantes, como o avanço das negociações por um pacote de estímulos monetários nos Estados Unidos. Por lá, a discussão se arrasta há meses entre Republicanos e Democratas.

Caso seja aprovado como está, o acordo significa uma injeção de cerca de US$ 748 bilhões na economia norte-americana. Ainda no cenário internacional, na Europa, as negociações do Reino Unido para uma saída amigável da União Europeia também parecem ter avançado. Na semana passada, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson chegou a afirmar que acreditava ser muito difícil chegar a um acordo antes do fim do período de transição do Brexit, que começou no dia 31 de janeiro e terminará no dia 31 de dezembro.

Paula Zogbi, especialista da Rico Investimentos, explica que o possível entendimento pelo pacote nos EUA e o desempenho de ações como a da Vale S.A (minério) e de bancos contribuíram para a alta do Ibovespa hoje. Já na Europa, as boas notícias sobre o Brexit foram positivas para o mercado, mas as medidas de isolamento em algumas das principais economias europeias no natal foram vistas com apreensão.

"Ajudou nos movimentos positivos a fala da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyern, sobre um progresso nas conversas entre Reino Unido e a UE. A votação pode acontecer no Natal. Por outro lado, economias importantes, como Alemanha, Holanda e Itália, desistiram de flexibilizar as medidas de isolamento para o período natalino, o que traz cautela e receio de que a velocidade da recuperação econômica seja prejudicada", ressalta.

Previsões para 2021

Já Victor Beyruti, analista da Guide Investimentos, acredita que o movimento de alta na bolsa brasileira deve se sustentar pelo menos até o primeiro trimestre de 2021, com expectativas de estímulos vindos dos EUA e a consequente entrada de capital estrangeiro em mercados emergentes, como é o caso do Brasil.

"Até o primeiro trimestre, a gente acredita num cenário construtivo para a bolsa, principalmente após a postura acomodatícia liderada pelo Federal Reserve (Fed), que demonstrou que deve continuar a compra de ativos para gerar liquidez no mercado. Isso acaba escorrendo para mercados emergentes, onde investidores vão buscar mais retorno", avalia.

Ele lembra que, em novembro, a entrada de estrangeiros na Bolsa brasileira bateu recordes, chegando a R$ 33,3 bilhões. Mas justifica que a alta no preço das commodities também é um fator determinante e tem beneficiado empresas como Petrobras e Vale, que compõem uma parte importante dos ativos da B3. A sustentabilidade do movimento de alta, para Beyruti, é dúvida após o primeiro semestre.

"Após o primeiro trimestre, a gente tem dúvidas sobre a sustentabilidade desse movimento. O problema fiscal está aí, e também há a questão da distribuição de vacinas. São problemas que acabam deixando a gente no limbo. E sem sinalização do governo de que o teto será mantido, esse dinheiro todo que está entrando pode ir embora na mesma velocidade", alerta.

Desafio fiscal

Outro fato importante por aqui foi a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que estabelece regras para a execução do orçamento de 2021. A Câmara manteve como meta fiscal no ano que vem um déficit primário de R$ 247,1 bilhões. Para Victor, esse é um primeiro passo importante para lidar com os problemas fiscais que pioraram durante a pandemia.

"Pelo menos um passo à responsabilidade fiscal deve ser dado, após um ano como esse. A PEC Emergencial também precisa ser aprovada, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defende isso. Mas pautas importantes no Congresso têm sido travadas, isso em um cenário em que o presidente Bolsonaro apoia outro candidato que não o Maia para a presidência da Câmara", lembra.

Vale lembrar que a chamada PEC Emergencial é uma de várias Propostas de Emenda à Constituição apresentadas pelo Ministério da Economia no fim do ano passado a fim de reequilibrar as contas públicas. Ela deveria ter sido votada, segundo o governo, um ano atrás.

Na semana passada, Maia chegou a brincar dizendo que levaria um bolo de aniversário para a PEC — fazendo referência ao seu aniversário de um ano. Depois, se irritou ao saber que o relator da proposta, o senador Marcio Bittar (MDB-AC), anunciou que só apresentará parecer no ano que vem.

*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza