O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que é mais barato investir em vacinas que continuar com programas de transferência de renda. “Agora é uma corrida para ver quem tem a vacina mais cedo e fechar a logística de distribuição. Acho que investir na vacina agora é mais barato do que prolongar as transferências diretas. Estamos concentrando nisso e é no que o mercado está focando”, disse, ao participar de um evento da Eurasia Group.
Para Campos Neto, a recuperação econômica no Brasil está perdendo força. “Tivemos o que foi o início de uma recuperação em V, que está perdendo um pouco do ímpeto agora”, disse. Mas, apesar de um pouco mais fraco, o crescimento deve persistir. Ele lembrou que o país não deve abandonar os projetos de ajuste fiscal. Se isso acontecer, o que ele definiu como “altamente improvável”, o prêmio de risco associado ao Brasil subirá e o BC terá que agir de olho no efeito desse movimento na inflação.
Na avaliação de Campos Neto, o retorno dos investidores estrangeiros, que vem sendo constatado, vai continuar se o país mantiver o cuidado com o equilíbrio das contas públicas. Por outro lado, ele citou o governo e o ministro da Economia, Paulo Guedes, para amenizar o discurso focado no risco e apontar que o mercado já precificou as instabilidades decorrentes da política e, de certa forma, avalia a habilidade do governo para avançar nas reformas. No evento, ele também citou que a dívida brasileira mudou de perfil, por causa dos gastos extraordinários para o combate à covid-19.
“O que nós vamos ter é um perfil de dívida de curto prazo”, avaliou. Mas as iniciativas de auxílio a pessoas físicas e jurídicas fizeram a diferença para manter o país na rota do crescimento, embora moderado. “O crédito aumentou mais que em 2019, o que já foi bom. Agora está em 16,3% em relação ao PIB. Isso está colaborando com nossa recuperação. Não só temos volume alto de crédito, como taxas mais baixas”, reforçou.
Inflação
Nas declarações do presidente do BC chamou a atenção do mercado financeiro a sinalização de que o país não pode abandonar a âncora fiscal, disse Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust. “A indicação de que a inflação é um choque temporário, porque pareceu que Campos Neto conta com o fim do auxílio emergencial neste ano, igualmente animou o mercado. Além da expectativa de continuidade do fluxo de capitais, muito importante para conter o câmbio e valorizar o real”, disse.