No final do ano passado, quando a Bolsa de Valores brasileira atingiu a histórica marca dos 120 mil pontos, a expectativa para 2020 era de ainda mais ganhos. Em fevereiro, algumas casas de análise renomadas, como o Bank of America, ainda estimavam um patamar próximo de 130 mil pontos ao fim deste ano. O resto da história é conhecida: o novo coronavírus chegou ao Brasil, o Ibovespa levou um tombo histórico e chegou aos 62 mil pontos em março.
O jogo começou a virar quando os Bancos Centrais ao redor do mundo fizeram a parte deles e injetaram dinheiro na economia, em forma de estímulos monetários, o que animou investidores no mercado financeiro. Por aqui, a taxa básica de juros (Selic) chegou à mínima histórica de 2% e deve ser mantida pelo menos até o início do ano que vem. A recuperação foi gradual, mas consistente. Agora, o cenário é outro: o Ibovespa zerou as perdas deste ano e fechou o pregão de ontem no azul pela primeira vez desde o começo da pandemia.
Aos 116.148 pontos, a bolsa registrou alta de 1,34%. Em 2020, a alta acumulada é de 0,44%. Já no câmbio, o dólar caiu 0,66% e fechou vendido a R$ 5,08. Rafael Ribeiro, da Clear Corretora, analisa que o fluxo atual é de compra de ações. Ele cita a importância dos estímulos monetários para a recuperação econômica e explica que o mercado está de olho nos Estados Unidos, onde um pacote de estímulos é discutido há meses entre Republicanos e Democratas sem um acordo.
Pacote nos EUA
As novidades sobre o pacote, somadas ao otimismo com o avanço das vacinas contra a covid-19, animaram os investidores. "Aparentemente os parlamentares americanos estão fechando um acordo que deve sair esta semana ou na semana que vem. Isso é importante, porque gera fluxo e liquidez no mundo inteiro. Isso significa maior apetite ao risco, algo que foi importante para a recuperação, os Bancos Centrais atuando de forma efusiva, de forma nunca antes vista", comenta Ribeiro.
Para ele, o fluxo de compra de ações deve continuar. Mas o velho problema das contas públicas, especialmente diante dos gastos com a pandemia, pode ser capaz de desanimar investidores. "O mercado está comprador e deve seguir nesse ritmo. Talvez não com o ímpeto de antes. Talvez agora, nesta semana, o Ibovespa suba menos. Ele começa a perder força, mas a tendência segue. Se, eventualmente, o governo der sinais de que está voltando atrás com relação ao compromisso fiscal, pode haver uma realização, mas o mercado agora está comprador. E nós não podemos ir contra isso, temos que surfar a onda", diz o especialista.
Entrada de capitais
Renan Silva, Bluemetrix Ativos, também destaca a tendência de alta e fala que é possível que ela se mantenha pelo menos no primeiro semestre de 2021, com a forte entrada de capital estrangeiro – que registrou recordes em novembro, com ingresso de R$ 33,3 bilhões na bolsa."Fica claro que os investidores, principalmente os profissionais, já enxergam um cenário pós-covid, com a volta da atividade econômica no início da vacinação. Há a percepção de que algumas empresas ainda estão com o preço muito atrativo, sob o efeito da pandemia, por causa da aversão a risco. É uma oportunidade para aqueles investidores que pensam no longo prazo", avalia.
Uma pesquisa do Bank of America divulgada ontem entrevistou gestores de recursos da América Latina e constatou que mais da metade deles acredita no Ibovespa em um patamar acima dos 130 mil pontos em 2021. Silva concorda com as projeções. "No final do ano passado, estávamos em 120 mil pontos. Então por tudo o que aconteceu e pelo desconto que temos hoje nas empresas brasileiras, 120 mil pontos é dado, apenas uma recuperação do patamar em que estávamos. Com juros baixos e com a recuperação, 130 mil pontos é possível", afirma.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza