Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Igor Calvet está convencido de que a tecnologia 5G mudará a forma de produção industrial, pois permitirá que mais empresas ingressem na Indústria 4.0. Atualmente, cerca de 10% das fábricas do país são consideradas integradas à quarta revolução industrial. “Nesse processo de transformação, que ocorre em todo o mundo, as empresas terão de aumentar a eficiência e incorporar a sustentabilidade para atender ao novo padrão de consumo”, diz.
Além da velocidade que a conexão vai permitir aos smartphones, a aposta da tecnologia 5G é no campo da produção. A nova conexão vai permitir avanços na agricultura, na educação, na medicina e na indústria. “O 5G é a tecnologia que chamamos de habilitadora, porque permitirá, por meio de suas características, saltos de produtividade e de eficiência”, afirma o presidente da ABDI. “O 5G vai nos possibilitar explorar novos campos, com avanços tecnológicos nunca vistos antes”, acrescenta.
No entender de Calvet, a adoção da tecnologia 5G é um caminho sem volta. “O mundo está passando por um reenquadramento das atividades produtivas, e todas essas atividades têm sido, enormemente, alteradas pela adoção de novas tecnologias”, ressalta. Todas essas mudanças, acredita ele, permitirão, por meio da velocidade de transmissão e da baixa latência, avanços em atividades que envolvem realidade aumentada, Inteligência Artificial, conectividade integrada com a Internet das Coisas (IOT, Internet of Things), além de garantir precisão nos mais diversos serviços que podem ser realizados. “Assim como o 4G expandiu o funcionamento e o desenvolvimento de novas atividades, como o Uber, o 5G irá além”, frisa.
Para o presidente da ABDI, o uso do 5G, na agricultura, permitirá alta precisão para o momento de semear e de colher a produção, precisão que se espalhará para a indústria. Na medicina, a alta precisão e a velocidade que o 5G oferece possibilitará uma cirurgia feita por um médico, em um outro país, realizada por um robô. “O poder disruptivo dependerá, porém, de uma menor regulação para que não só os consumidores, mas, também, as empresas aproveitem ao máximo essa tecnologia”, acrescenta.
Segurança
Ciente do que está por vir, Calvet assinala que a ABDI fechou um acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para realizar testes de desempenho e convivência com os dispositivos. O objetivo é ter informações sobre faixas de frequência, latência e características da tecnologia 5G, a fim de reduzir os riscos da tecnologia e prever futuros problemas. “Fizemos esse acordo porque é muito importante que tenhamos maior segurança técnica da eficiência dos dispositivos. O primeiro ambiente de implementação em que faremos isso será dentro de uma indústria”, afirma.
Os testes que serão realizados têm três principais vertentes de análise: monitorar a capacidade de produção; fazer o sensoriamento para questões de logística que a empresa demanda; e verificar a qualidade. Os testes, que também produzem informações relevantes referente ao tomador de decisões, permitirão, inclusive, o uso de realidade aumentada. Tudo isso será possível, na opinião de Calvet, porque a tecnologia 5G abre as mais diversas vertentes para todos os setores da indústria, do comércio, da medicina e do consumidor.
O presidente da ABDI relata a produção de um mapeamento de demanda do setor privado que possibilita o estudo de como usar a tecnologia em cada área. “Hoje, há uma grande discussão no meio industrial sobre a real dimensão e o potencial das redes privativas da tecnologia 5G. Temos para o país a oportunidade de entrar no processo de indústria 4.0, em uma economia digital como nunca antes fizemos”, diz.
A tecnologia também vai resultar na geração de empregos tecnológicos e na formação de profissionais capacitados para atuarem na área. Nos últimos anos, o investimento em tecnologia já faz parte do processo de algumas empresas, mas faltam profissionais capacitados para trabalhar com tais processos. Companhias que capacitam seus funcionários ou contratam especialistas na área conseguem aumentar a produção tecnológica. Acontece o inverso com aquelas que não fazem o mesmo, ainda que invistam em tecnologia na produção.
Segundo Calvet, a capacitação da população para atuar nessa área é de suma importância para o bom aproveitamento da tecnologia, mesmo que as máquinas passem a desenvolver papéis, em parte, independentes com a nova conexão. “O capital humano é absurdamente importante para explorarmos ao máximo essa tecnologia. O 5G que estamos falando, aqui, não é a conexão de pessoas, é a conexão de máquinas, elas vão dialogar entre elas e tomar decisões”, ressalta. Mas, todo processo de desenvolvimento de produção precisa ser realizado por um humano, o qual precisa ter capacidade para dar ordens e programar as máquinas.
(*) Estagiária sob a supervisão de Vicente Nunes
O 5G que estamos falando, aqui, não é a conexão de pessoas, é a conexão de máquinas, elas vão dialogar entre elas e tomar decisões
Igor Calvet, Presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI)