O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter novamente a taxa básica de juros (Selic) no patamar histórico de 2%. A decisão foi tomada por unanimidade na última reunião do ano, que começou na terça-feira (8/12) e terminou no início da noite desta quarta (9). Já o forward guidance tem chances de ser abandonado em breve, diante do cenário de convergência da inflação.
Segundo o Copom, a decisão não implica necessariamente uma elevação da Selic, uma vez que o cenário de crise sugere ser preciso continuar com os estímulos monetários. "Em um cenário de retirada do forward guidance, a condução da política monetária seguirá o receituário do regime de metas para a inflação, baseado na análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos", especificou o Comitê em comunicado divulgado pelo BC no início da noite.
O último corte na Selic, de 0,25% em agosto, foi o décimo consecutivo. A série de cortes começou ainda em junho do ano passado, quando a Selic era de 6,5%. No mês seguinte passou para 6%; depois, 5,5%; 5%, em outubro; e, finalmente, 4,5%, na última reunião de 2019. Com a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil no início de 2020 — e diante da grave crise econômica —, a taxa acumulou recuo de 2,25% este ano.
O Copom avalia que, apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, os choques atuais são temporários, mas afirma que segue monitorando sua evolução com atenção, em particular as medidas de inflação subjacente, que, segundo o comunicado, apresentam-se em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária. De acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, as expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 estão em torno de 4,2%, 3,3% e 3,5%, respectivamente.
Vale lembrar que a inflação este ano deve fechar acima da meta central. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, avançou 0,89%. Nos últimos 12 meses, há um acúmulo de 4,31%. De acordo com analistas de mercados ouvidos pelo Boletim Focus, no fim de 2020, essa porcentagem deve ser de 4,21%.
Desaceleração
Em meio ao possível fim do auxílio emergencial, garantido apenas até o fim do ano e sem previsão de extensão, economistas ouvidos pelo Correio trabalham com a hipótese de que a inflação deve desacelerar no início de 2021, tendo em vista que os efeitos mais rígidos da pandemia (incluindo a expressiva alta do dólar) terão passado e o cenário será de desemprego, com renda menor devido ao fim do auxílio.
"A incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", diz um trecho do comunicado divulgado pelo BC.
Cenário externo
Já no cenário externo, segundo o Copom, a nova onda de contágio que cresce em algumas das principais economias tem revertido os ganhos na mobilidade e deverá afetar a atividade econômica a curto prazo. O Comitê de Política Monetária destaca, contudo, os promissores resultados nos testes das vacinas contra a covid-19, e afirma que eles tendem a melhorar a confiança e normalizar a atividade no médio prazo.
A ociosidade da economia, ainda segundo o comunicado, sugere que os estímulos monetários terão longa duração, permitindo um ambiente favorável para economias emergentes. O Copom avalia também que um ambiente favorável a reformas é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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