Além da alta dos alimentos, os brasileiros vão ter que lidar com o aumento da conta de luz em dezembro, por conta da decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de reativar o sistema de bandeiras tarifárias com a bandeira vermelha patamar 2. Por isso, a inflação vai continuar em alta e deve fechar o ano acima da meta de 4%.
O mercado calcula que a inflação vai subir quase 0,5 ponto percentual neste mês por conta do aumento da energia. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo de energia elétrica residencial representa 4,3% da cesta de consumo medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que vem subindo por conta da alta dos alimentos e, mais recentemente, da recomposição de preços de bens industriais e serviços.
Com a bandeira vermelha, as faturas de energia vão ter um acréscimo de R$ 6,243 para cada 100 quilowatts-hora consumidos. O impacto não era esperado, visto que, na pandemia de covid-19, a Aneel havia prometido só reativar o sistema de bandeiras tarifárias em 2021.
“A energia elétrica pesa bastante no IPCA, pois compromete uma parcela importante do orçamento do brasileiro. Para cada 1% de aumento da energia, há um impacto de aproximadamente 0,06 ponto percentual na inflação. E, agora, o aumento será de cerca de 6%, o que dá 0,5 ponto percentual”, calculou o coordenador dos índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz. “O acionamento da bandeira vermelha vai encarecer o custo de vida e a inflação virá em magnitude superior à que era esperada”, reforçou o economista sênior do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier.
O ABC calcula um impacto de 0,48 ponto percentual na inflação de dezembro. É a mesma projeção da Ativa Investimentos, que elevou de 0,88% para 1,36% a expectativa do IPCA deste mês. Por conta disso, o mercado admite que a inflação vai ficar acima da meta de 4% neste ano — algo que não era esperado no início da crise da covid-19. Após o anúncio da Aneel, diversos analistas correram para rever as projeções. As expectativas para o IPCA de 2020, que giravam entre 3,5% e 3,9% no início da semana, agora vão de 4,13% a 4,47%.
Por outro lado, os economistas dizem que, ao antecipar para dezembro um aumento que era esperado apenas em 2021, a Aneel tirou um pouco da pressão inflacionária do próximo ano. “A expectativa era fechar o ano com a bandeira verde, mas vamos fechar com a bandeira vermelha patamar 2, que é a mais alta. Por isso, qualquer bandeira para ano que vem vai ser ou igual ou menor”, explicou o economista da LCA Consultoria, Fábio Romão.
A LCA, por exemplo, prevê bandeira amarela no fim de 2021. Por isso, revisou de 3,8% para 3,4% o IPCA de 2021. Outros analistas também reduziram a expectativa da inflação do próximo ano para algo em torno de 3% a 3,4%. Por isso, avaliam que a pressão inflacionária deste fim do ano não deve mudar o discurso do Banco Central (BC) de que a alta de preços é temporária.
Juros
Os especialistas admitem, contudo, que a revisão da taxa básica de juros (Selic), que deve passar dos atuais 2% para 3% em 2021 segundo as projeções do mercado, pode começar antes do esperado. “O IPCA acumulado em 12 meses deve ficar acima de 4% até março e pode superar a marca de 5% em abril, maio e junho do ano que vem, já que outros preços administrados também serão reajustados em 2021, como de ônibus urbano, medicamentos, plano de saúde. É incômodo. Então, há um risco crescente de o BC antecipar para o primeiro semestre a elevação dos juros”, explicou Romão. Ele projeta uma trégua da inflação depois disso, por conta da alta mais moderada de outro componentes do IPCA, como os serviços.