O escândalo global chamado de Dieselgate, da fabricante de veículos Volkswagen, revelado em 2015, pode ainda não ter terminado no Brasil. Uma nova ação cível pública aponta que o número de picapes com motor a diesel com problemas no país pode ultrapassar as 17 mil unidades chamadas para recall em 2017, chegando a 80 mil. Esse número leva em consideração que o software fraudulento do motor EA189, que equipa a picape VW Amarok, esteve, também, presente nos modelos fabricados entre parte de 2012, 2013, 2014 e 2015.
“No STJ (Superior Tribunal de Justiça), A associação parceira pleiteia um valor de indenização padrão para os danos materiais, assim como a Volkswagen fez em outros países, sem individualizar cada caso”, afirma Bruno Dollo, CEO da Regera.vc, plataforma contratada por uma associação para viabilizar a antecipação dos direitos dos consumidores que adquiriram Amarok com o dispositivo defeituoso. Segundo ele, se não houver acordo, “a individualização de cada caso poderá se arrastar por muitos anos na Justiça”. A indenização é estimada a partir de R$ 15 mil por proprietário lesado por danos morais mais as eventuais despesas com danos materiais.
Das centenas de proprietários que se cadastraram na plataforma, destaca Dollo, “90% tiveram altas despesas com manutenção. Em média, eles gastaram R$ 14 mil, mas alguns consumidores relatam prejuízos superiores a R$ 50 mil”. Ele explica que “a maioria dos problemas está relacionada à válvula EGR e à correia dentada comuns todos os modelos fabricados entre 2011 e 2015”.
É o caso do empresário Gustavo Carli, de Uberaba, que teve problemas de fabricação com uma Amarok modelo 2014. Ele conta que a válvula EGR, que atua na troca gasosa do motor, passou a roubar água do radiador sem aviso e fundiu o motor. “Fiz todas as revisões do manual, em nenhuma delas fui alertado sobre esse problema, que é crônico”, lamenta. O empresário acrescenta que, quando o motor fundiu, precisou arcar com o conserto de R$ 30 mil sozinho, pois (o problema) ocorreu justamente após o fim da garantia (do veículo).
O mesmo ocorreu com o aposentado Osmar de Carvalho, morador de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. No caso, o veículo é de 2012, mas foi comprado por ele em 2014. O carro era usado, mas o antigo dono não avisou sobre os problemas. Desde então, o aposentado frequenta a oficina mecânica que quase semanalmente, gastando, em média, R$ 600 a cada visita. “Não tenho ideia de quanto já gastei, mas foi bem mais de R$ 10 mil”, calcula. Osmar descobriu sobre os problemas com a montadora por meio da imprensa. “Percebi que os problemas relatados eram os mesmos que eu sofria”. Procurada, a Volkswagen informou que não irá se posicionar sobre o assunto no momento.
Relembre o caso
A fraude que desencadeou o Dieselgate consistiu na instalação de um software programado para controlar as emissões de óxido de hidrogênio (NOx) do motor EA189 conforme o ambiente de uso da picape Amarok, de modo a burlar os testes de emissões de poluentes e enquadrar o veículo nas exigências da legislação vigente. Nos testes em laboratório, o veículo soltava menos poluentes pois o dispositivo mapeava a posição do volante e o ritmo de rolagem das rodas, identificando tratar-se de um ambiente controlado, dando à montadora a chancela de órgãos de fiscalização quanto à aderência do veículo à legislação ambiental vigente. Já no uso em ruas, o software desligava, fazendo com que a emissão ficasse acima do que havia sido mensurado, causando danos ao veículo e, por consequência, aos consumidores.
*Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro
Serviço
Proprietários de picapes Amarok fabricadas entre parte de 2012, 2013, 2014 e 2015 que desejam saber se têm direito a participar da Ação Cível pública devem acessar o site www.dieselgate.com.br.
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