CONJUNTURA

Risco fiscal pode elevar inflação a 6,4% em 2021, alerta Banco Central

No cenário, a inflação chegaria a 7,2% no terceiro trimestre de 2021 e fecharia o próximo ano a 6,4%, três pontos percentuais acima dos 3,4% projetados atualmente

Marina Barbosa
postado em 17/12/2020 14:42 / atualizado em 17/12/2020 14:43
 (crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)
(crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)

A deterioração da situação fiscal brasileira pode dobrar a inflação projetada para o ano que vem, segundo o Banco Central (BC). A autoridade monetária explicou que a piora do risco fiscal poderia elevar o dólar em mais 58%, o que implica em aumento de preços. Por isso, calcula que, neste cenário, a inflação chegaria a 7,2% no terceiro trimestre de 2021 e fecharia o próximo ano a 6,4% — três pontos percentuais acima dos 3,4% projetados atualmente.

As projeções para a inflação em um cenário de agravamento fiscal constam em um box do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), publicado nesta quinta-feira (17/12) pelo Banco Central. "Questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas têm o potencial de aumentar a incerteza econômica, os prêmios de risco e a taxa de juros estrutural da economia, e depreciar a taxa de câmbio", explicou o RTI.

O BC concluiu que "o efeito sobre as projeções de inflação é significativo". E calculou que, neste cenário, as projeções de inflação "atingem pico de 7,2% no terceiro trimestre de 2021, terminando o ano 3,0 p.p. acima do cenário-base, em 6,4%, ultrapassando, assim, o limite superior do intervalo de tolerância da meta, de 5,25%".

Isso porque "o aumento da inflação se dá pelo repasse cambial, tanto para preços livres como administrados pelo aumento da taxa de juros real neutra e pelos efeitos nas expectativas de inflação", e "parcela significativa da transmissão dos efeitos da depreciação cambial sobre a inflação ocorre em prazos relativamente curtos, tendo em vista a resposta de preços de combustíveis e de commodities em moeda nacional".

Na apresentação do RTI, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, explicou que esse exercício visa dar transparência aos cenários de risco avaliados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na definição da taxa básica de juros (Selic). Mas ressaltou que este não é o cenário básico do BC, que projeta uma inflação de 3,4% para 2021. Ele também não informou qual a probabilidade disso ocorrer. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, por sua vez, voltou a defender o ajuste fiscal e a manutenção do teto de gastos, e lembrou que a manutenção do forward guidance, a prescrição futura de juros baixos, está condicionada à manutenção do atual regime fiscal.

Pandemia

Por outro lado, o BC também avaliou o risco de a inflação cair a 2,4% no próximo ano e continuar em 2,5% em 2022, caso a pandemia de covid-19 dure mais que o esperado. Afinal, a persistência da pandemia renovaria as incertezas e a ociosidade da economia, reduzindo a demanda e a inflação.

"A incerteza sobre como e em que velocidade se dará a imunização da população por meio de vacinação, que permitirá a flexibilização do distanciamento social, é um ponto ainda relevante dentro dos prognósticos da atividade econômica e da inflação", diz o RTI. O BC calcula, então, que "como resultado da interrupção temporária do processo de recuperação econômica, as projeções de inflação são mais baixas do que no cenário-base, em 1,0 p.p. e 0,9 p.p. para 2021 e 2022, respectivamente".

Inflação de alimentos

O BC reconheceu que a inflação veio acima do esperado nos últimos meses e deve fechar este ano acima da meta de 4%, sobretudo por conta da alta dos alimentos, que pesou mais no orçamento das famílias mais pobres. Porém, acredita que este é um movimento temporário, e lembrou que o Comitê de Política Monetária (Copom) está cada vez mais mirando a inflação de 2022, cujas expectativas estão ancoradas na meta.

"Entendemos que tem uma trajetória de alta, mas é temporária", disse Campos Neto. Ele explicou que o repique da inflação neste ano está relacionado a fatores que tendem a não pressionar os preços em 2021: a alta do câmbio e das commodities, cujas cotações já dão sinais de reversão; o auxílio emergencial; e a quarentena, que impulsionaram a compra de alimentos, mas também estão sendo retirados.

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