Mesmo com um cenário otimista para 2021, prevendo crescimento de 4% e de 3% no Produto Interno Bruto (PIB), respectivamente, os bancos Itaú Unibanco e BNP Paribas não descartam a possibilidade de um PIB negativo logo no primeiro trimestre de 2021. Neste cenário, o processo de retomada da atividade será mais lento e gradual, e dependerá, principalmente, do sucesso da vacinação no controle da pandemia de covid-19.
De acordo com o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, a queda do PIB nos primeiros três meses de 2021 poderá ocorrer se a taxa média diária de mortes por covid-19 ficar em torno de 600 pessoas ou acima disso. “Vamos torcer para que todos estejam vacinados, porque, em um cenário com 400 mortes diárias pode ocorrer um trimestre negativo. Precisamos que a taxa de mortes caia. Agora, os dados pioraram (com o aumento dos casos e mortes recentes no país), e isso aumenta o risco de termos um PIB negativo no primeiro trimestre de 2021”, afirma Mesquita. Atualmente, os óbitos giram entre 600 e 800 por dia.
Durante a apresentação sobre as perspectivas macroeconômicas do Brasil, Mesquita manteve em 4,1% a previsão de queda do PIB deste ano, e estima avanço de 4% no ano que vem, taxa parecida com a do México e a menor dos demais vizinhos, pelas estimativas do banco. De acordo com o economista-chefe do Itaú-Unibanco, a previsão da equipe coordenada por ele para o carregamento estatístico do PIB de 2020 para 2021 está em 3,5%. Isso significa que, mesmo se não houver melhoria na atividade ao longo do próximo ano, o PIB brasileiro deverá ter um crescimento inercial de 3,5%, o que resultaria em um aumento da atividade no próximo ano de 0,5% em relação ao anterior, uma taxa que não explica uma retomada forte em nenhum contexto.
Cenários
Após crescer 7,7% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, o PIB do quarto trimestre deverá registrar alta de 2,9%, na mesma base de comparação, pelas projeções do Itaú Unibanco. Para 2021, o banco traça três cenários para o primeiro trimestre, mostrando desaceleração na atividade em função dos riscos fiscais e da segunda onda de contágio, sendo que o número de mortos ditará o ritmo da economia.
No primeiro cenário, considerando o número de óbitos diários de 400, a taxa de crescimento será modesta, de 0,2%, em relação ao trimestre anterior. Caso as mortes fiquem em 600, de janeiro a março de 2021, a queda no PIB no trimestre será inevitável, chegando a 1,2%, com serviços encolhendo 2,7%. No mais otimista, com os casos fatais ficando abaixo de 200 por dia, as estimativas do banco são de crescimento de 0,9%.
Queda inevitável
Gustavo Arruda, economista-chefe do BNP Paribas, considera inevitável a queda do PIB no começo do ano que vem. Ele prevê recuo de 0,5% no primeiro trimestre de 2021, após um crescimento de 2,1% no quarto trimestre deste ano. Para ele, esse cenário reflete uma acomodação da economia em 2021, por conta da redução dos estímulos fiscais. O fim do auxílio emergencial, que respondeu por 4,5% do PIB neste ano, é um fator importante para essa desaceleração que virá devido a uma queda no consumo.
Contudo, ele reconhece que o cenário externo mais favorável, com aumento da liquidez nos países desenvolvidos, que devem continuar com estímulos fiscais e monetários mais intensos do que os do Brasil, pode contribuir para uma acomodação das pressões inflacionárias que estão fortes neste fim de ano, com perspectivas de queda no dólar. Tanto que, pelas estimativas do banco francês, é provável que o câmbio volte para R$ 4,25 em 2021.
“O PIB do Brasil teve uma performance bastante boa em relação aos demais emergentes em 2020 por conta da política fiscal, mas todos vão pagar a conta dessas medidas no ano que vem”, afirma Arruda. Segundo ele, não haverá um contrabalanceamento do aumento da poupança dos brasileiros ser um fator de estímulo para o consumo em 2021. “O ano vai ser difícil. Se, por um lado, o gasto fiscal deverá ser menor, o que impacta na demanda, a política monetária deverá continuar ajudando alguns setores, como construção civil e de bens duráveis, com os juros baixos, apesar do início de uma normalização”, acrescenta.
Na avaliação do economista do BNP, que não acredita no avanço de reformas como administrativa e tributária antes de 2022, o crescimento do PIB brasileiro deverá continuar lento nesse processo de saída da pandemia, com o PIB voltando ao patamar pré-crise apenas no início de 2022. “Em outubro, nossa previsão anterior era no final de 2022. Com o PIB do terceiro trimestre e a revisão dos dados da primeira metade do ano, mudou um pouco. Mas, temos de levar em consideração que ainda vamos esperar até 2022 para recuperar os patamares do quarto trimestre de 2019”, explica.
Arruda reconhece, também, que a recuperação da economia global está ocorrendo em um ritmo melhor do que o inicialmente previsto durante a pandemia, o que é bastante positivo, especialmente para o Brasil, que deve apresentar uma retração menor do que outros países da América Latina. Mas, ele destaca que o país não deve registrar um ritmo de recuperação acima da média mundial.
“Como o mundo foi agressivo durante a pandemia com pacotes fiscais e o Brasil, também, como o endividamento do país é muito elevado, não será possível continuar sendo agressivo no próximo ano”, explica o economista do BNP. Ele lembra que o Brasil tem nível de dívida pública bruta semelhante aos países desenvolvidos e será bastante desafiador reduzir o deficit fiscal deste ano, de mais de 10% do PIB para algo entre 2% e 3% do PIB no ano que vem. “A questão fiscal será uma preocupação grande ao longo de 2021”, alerta.
Estimativa de retração
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, revisou, recentemente, de 2,2% para 2,6% a previsão de crescimento em 2021, após o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que contou com revisões nas taxas de queda de 2,5% e de 9,7% no primeiro e no segundo trimestres do ano, para 1,5% e 9,6%, respectivamente. Ele alterou a estimativa de retração neste ano, de 3,8% para 4,3%, especialmente, pelo resultado positivo do pacote fiscal do governo, que injetou R$ 322 bilhões com o auxílio emergencial, mais da metade dos R$ 574 bilhões previstos de gastos extraordinários previstos com a pandemia, conforme os dados do Tesouro Nacional.
“Acho que o pacote fiscal foi forte e, por isso, vamos conseguir cair menos. Mas, não tinha como evitar a queda, de qualquer maneira, por causa da quarentena”, avalia Vale. Ele não vê a recuperação de alta de 7,7% no terceiro trimestre como suficiente para apostar em uma retomada em V, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, insiste em defender. Tanto que, pelas estimativas do economista da MB, no primeiro trimestre do ano que vem, o PIB deverá registrar alta de 1,6% na margem, ou seja, em relação aos últimos três meses de 2020, quando a expectativa de Vale é de um avanço de 2,2% no PIB.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2020, a queda prevista é de 0,1%. Contudo, o analista não descarta totalmente as chances de o primeiro trimestre de 2021 ficar no negativo. “Na margem, é possível haver queda, mas ainda está muito aberto. Com certeza, haverá um recuo na comparação interanual”, afirma.
A questão da vacinação será determinante para o ritmo da retomada no ano que vem, de acordo com Vale. Ele acredita que, no primeiro semestre, o país só conseguirá vacinar as pessoas com mais de 50 anos. “Vamos esperar o segundo semestre para as demais pessoas”, avalia. Pelos cálculos dele, o carregamento estatístico do PIB de 2020 para 2021 será de 2,6%, ou seja, toda a previsão de crescimento do PIB para o ano inteiro. Logo, a economia vai andar de lado. “Na verdade, não vamos ver um crescimento em 2021”, resume. Para ele, o PIB tem chances de voltar ao patamar pré-crise no segundo trimestre de 2021, mas vai depender do desempenho da atividade e do sucesso da vacinação da população ao longo do próximo ano.
De volta ao patamar de 2017
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, no último dia 3, expansão de 7,7% no Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores. Foi o melhor resultado do PIB desde o início da série, em 1996, mas o dado ficou abaixo da mediana das estimativas do mercado, que esperava alta de 8,8%. O resultado ainda não recuperou as quedas revisadas de 1,5% e 9,6% no primeiro e no segundo trimestre de 2020, pois, no acumulado do ano até setembro, o PIB caiu 5% em relação ao mesmo período de 2019. Esse indicador mostra a volta da economia brasileira ao patamar de 2017, segundo o órgão. E, em comparação com o mesmo trimestre do ano passado, o recuo do PIB foi de 3,9%.
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