Desemprego segura Selic

Israel Medeiros*
postado em 08/12/2020 00:11 / atualizado em 08/12/2020 00:12

O Banco Central deverá manter a taxa básica de juros (Selic) em 2% até o fim do ano. A última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) termina amanhã, e a dúvida é até quando esse patamar histórico será mantido. De acordo com analistas do mercado ouvidos pelo Boletim Focus, produzido pelo próprio BC, a expectativa é de que a taxa salte para 3% no segundo semestre de 2021, diante de um cenário de recuperação econômica.

Já a inflação prevista pelos analistas para este ano é de 4,21% — valor acima da meta central inflacionária, que é de 4% para 2020, e maior que os 3,54% estimados na semana passada no mesmo relatório. Na reta final do ano, a inflação tem avançado, impulsionada pelo alto valor dos alimentos, como explica José Luis Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília. Para ele, a alta do custo de vida não justifica uma alta na taxa de juros, uma vez que os efeitos inflacionários causados pela pandemia foram extraordinários.

“A inflação que vimos foi um efeito combinado da desvalorização no câmbio e também devido ao aumento do preço dos alimentos. Isso ocorreu por causa da pandemia. Os eventos são não recorrentes e, sobre isso, a taxa de juros não pode fazer muita coisa. Ela deve permanecer baixa porque, em 2021, o desemprego vai estar alto”, comentou o economista, ao explicar também que a ociosidade da economia significa uma inflação contida em 2021.

Outro fator que contribui para uma inflação mais baixa e a manutenção da Selic, segundo Oreiro, é o fim do auxílio emergencial, que deve ocorrer este mês. “Isso aumenta a pressão desinflacionária. Porque, se além do auxílio emergencial houver alta de juros, haverá uma nova recessão. Em 2021, provavelmente não terá mais auxílio. Nesse cenário, não existe nenhuma razão para sugerir uma elevação da taxa de juros”, pontuou.

Ele lembrou que a recuperação econômica tem sido satisfatória, ao mencionar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2020, divulgado pelo IBGE na última semana. O resultado foi 7,7% melhor que o trimestre anterior. “Para 2020, o resultado vai ser melhor do que a gente esperava em maio. Graças ao auxílio emergencial, à injeção fiscal, a economia vai ter um desempenho melhor que o esperado. Mas o ano de 2021 é muito incerto. As pessoas saíram do mercado de trabalho e vão retornar, só que, agora, com uma retirada de ritmo fiscal. Eu estou muito preocupado com a contração fiscal. Não descarto a economia crescer próximo a zero no próximo ano. Acho que, no apagar das luzes, vão estender o auxílio emergencial porque, se não estender, a situação será bem complexa”, apostou.

*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação