Dezembro está chegando, mas, com ele, estarão a pandemia do novo coronavírus e a inflação dos alimentos, que devem dificultar a reunião familiar nas festividades de fim de ano. Além do risco de infecção, a fartura não anda marcando presença na mesa dos brasileiros em 2020. Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Getulio Vargas (FGV), o alimento mais inflacionado, este mês, foi a batata inglesa, que sofreu alta de 26,72%, após queda de -12,20 e -5,99%, em setembro e outubro, respectivamente. Já o preço do arroz, queridinho nas mesa dos brasileiros, continua subindo, após várias altas seguidas. O grão inflacionou mais 9,32% em novembro, e o carré ou bisteca teve alta de 8,62% em novembro, quinto mês consecutivo de alta. A carne de frango, por sua vez, está no terceiro mês seguido de inflação.
André Braz, economista da FGV, explica que o preço das carnes aumentou devido aos custos para manutenção dos animais. “Tanto o porco quanto a ave são criados em confinamento e usam muito ração. A ração para aves é milho e a ração para porcos é o farelo de soja, que é a base de soja e milho, também. Esses grãos subiram mais de 80% nos últimos 12 meses”, afirma. O especialista ressalta, ainda, que a desvalorização do real contribui para o aumento dos preços das carnes, visto que as exportações aumentam e sobra menos para o comércio nacional. “É a lei da oferta e da procura. Manda para fora, não tem aqui dentro, aí o preço sobe”.
Entre os alimentos cujos preços caíram estão frutas e legumes. A cebola foi a mais deflacionada, com diminuição de -15,64%, após queda de -25,86%, em setembro, e -3,48, em outubro. O limão, após dois meses de alta, finalmente baixou de preço. A fruta deflacionou -7,45%, em novembro, após altas de 27,76% e 2,73%, em setembro e outubro, respectivamente. “Para os produtos in natura, temos que saber escolher os da estação”, aconselha Braz. “Esses alimentos não são um desafio constante para a inflação, porque sobem desrespeitando o calendário de colheita deles. Então, na safra, estão com bons preços e na entressafra com preços altos”, finaliza.
Demanda
José Luís Oreiro, professor do departamento de economia da Universidade de Brasília (UnB), explica que os motivos por trás da inflação são variados. “Temos uma desvalorização de câmbio acumulada ao longo deste ano de 2020, que está entre 30% e 40%, e muitos dos alimentos, como o arroz e o trigo, possuem seus preços cotados no mercado internacional. Ou seja, quando temos uma desvalorização como essa da taxa de câmbio, o preço em real desses alimentos fica mais caro”, pontua.
O especialista também ressalta que o aumento de preço de alguns alimentos no mercado internacional, causado pelas compras que países como a China fizeram de maneira preventiva para aumentar estoques de comida e garantir a segurança alimentar da população em meio à pandemia, é outro fator agravante.
“Além disso, desde 2017, os estoques reguladores da Conab (Companhia Nacional de Abastecimentos) vêm sendo reduzidos. Durante o governo do Michel Temer (2016-2019) alegou-se que não valia a pena para o governo brasilerio pagar o custo de carregamento dos estoques de gêneros alimentícios e que se deveria deixar, portanto, os preços do gênero agrícola flutuarem de acordo com a oferta e a demanda”.
Oreiro explica que quando ocorre aumento forte de demanda, como aconteceu no começo do ano com os pedidos de exportações do Brasil para outros países, o preço tende a subir mais do que subiria se tivesse um estoque regulador. “A política neoliberal exercitada desde o governo Temer, de redução sistemática dos estoques, tem contribuído para ampliar a flutuação dos preços do gênero agrícola”, ressalta.
O economista diz, ainda, que uma alternativa para o governo seria a adoção de um imposto sobre a exportação de alimentos. “No lugar de redução de preços da tarifa de importação, seria melhor introduzir um imposto sobre a exportação, pois assim se aumenta a disponibilidade interna de alimentos, como arroz, trigo e soja, o que, no ano que vem, resultaria em uma queda no preço desses produtos; e, além disso, contribuiria para gerar receita ao governo”.