INDÚSTRIA

Siderúrgicas: não faltará aço

Em reunião com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, representantes do setor garantem o abastecimento do mercado interno, apesar de queixas recentes de clientes, como empresas da construção civil

O risco de uma segunda onda da pandemia de covid-19 não é visto com preocupação por representantes da indústria do aço, que, em encontro com o presidente Jair Bolsonaro, descartaram o risco de desabastecimento do produto, apesar de queixas recentes de clientes, principalmente, de empresas da construção civil.

Na avaliação do presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, e do presidente do Conselho Diretor da entidade, Marco Faraco, o setor opera ainda com ociosidade de 68%. “Há zero possibilidade de desabastecimento. A nossa capacidade instalada é de 51 milhões de toneladas e trabalhamos com um grau muito baixo. A prioridade é abastecer o mercado interno. Infelizmente, ele não demanda o que é necessário para as empresas terem um grau maior de utilização da capacidade”, afirmou Marco Polo, em videoconferência a jornalistas, antes da reunião com Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, no Palácio do Planalto.

Faraco admitiu a existência de problemas na cadeia de distribuição de aços longos e planos, mas afirmou que a oferta e a demanda deverão se ajustar “em algumas semanas”. Ele acrescentou que, para operar de forma sustentável, o setor deveria trabalhar com utilização de 80% da capacidade, algo que poderia ser incrementado se houvesse avanço nas obras de infraestrutura previstas no Programa de Parceira de Investimentos (PPI).

De acordo com Faraco, as vendas de laminados em novembro estão quase 30% acima da média mensal de antes da pandemia e, portanto, o processo de retomada está forte, em ritmo de um verdadeiro V. Para este ano, a entidade prevê queda de 5,6% na produção de aço bruto, na comparação com 2019, para 30,7 milhões de toneladas. A expectativa é da volta de um crescimento em 2021, de 5,3%.

Na avaliação dos executivos, se houver uma segunda onda de covid-19, ela será diferente da primeira, uma vez que há mais conhecimento sobre o novo coronavírus e os índices de isolamento social deverão ser menores.

Marco Polo, entretanto, reconheceu que existem sinais de desaquecimento no quarto trimestre, em meio ao aumento do contágio no país, mas descarta a repetição de níveis de paralisação das fábricas alcançados em abril. “A gente está vendo sinais de piora em diferentes regiões, mas estamos setorialmente preparados”, afirmou.

Após o encontro, Marco Polo informou ao Correio que a reunião foi bastante positiva. Segundo ele, Bolsonaro e os ministros foram receptivos às demandas do setor — isonomia de tratamento entre o produto nacional e o importado e aumento da restituição de impostos na exportação. “A gente sabe como funciona. A negativa sempre vem na hora. Mas, o que houve foi a percepção de que o que estávamos falando é extremamente coerente com a agenda de produtividade e de retomada do crescimento que o governo defende.”

De acordo com o executivo, o clima da conversa também foi descontraído, principalmente, entre Guedes, Bolsonaro e o ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto. “Não vi sinais de atrito. Eles mostraram total sintonia”, afirmou.

CNI aponta escassez de insumos

Sondagem Especial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem, revela que o percentual de indústrias com problemas para atender os clientes aumentou de 44% para 54% entre outubro e novembro. Segundo o presidente da entidade, Robson Andrade, a dificuldade de obter insumos domésticos, apontada no levantamento de outubro como o principal gargalo pelos executivos do setor, passou a atingir 75% das empresas.

“Apesar da recuperação da produção industrial nos últimos meses, os estoques iniciaram novembro ainda baixos, aumentando a impossibilidade de se conseguir insumos nacionais. Esse problema está desorganizando as cadeias de produção, repercutindo em toda indústria, criando entraves para a continuidade da recuperação do setor”, afirmou Andrade.

Os empresários consultados acreditam que o abastecimento será normalizado até o fim de 2021. Considerando apenas a indústria de transformação, para quase metade dos entrevistados (47%), a normalização ocorrerá no primeiro trimestre do próximo ano. Outros 30% acreditam que o desabastecimento chega ao fim até o segundo trimestre e 16%, na segunda metade de 2021 ou além. Apenas 4% acreditam que o problema será equacionado ainda em 2020.

O maior prejudicado no atendimento à demanda continua sendo no setor de móveis. Em novembro, oito em cada 10 empresas (81%) relataram problemas para atender a prazos ou dar vazão aos pedidos dos clientes. Em outubro, eram 70%. Na construção civil, 72% das empresas relataram contratempos para conseguir insumos.

Segundo a CNI, o problema se agravou em quatro setores: automóveis, produtos de madeira, couros e artefatos de couro e máquinas e equipamentos. Em 21 dos 27 segmentos analisados, o percentual de executivos que relatam obstáculos para conseguir a matéria-prima é igual ou superior a 70%. O índice de indústrias com impedimentos subiu em 24 dos 27 setores avaliados polo levantamento da CNI.

* Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo