A pandemia afetou drasticamente as viagens internacionais. Com isso, o deficit nas contas caiu de US$ 1 bilhão, em outubro de 2019, para US$ 103 milhões, no mesmo mês de 2020. Os dados constam do boletim de estatísticas do setor externo, divulgado, nesta quarta-feira (25/11), pelo Banco Central (BC). Segundo a autoridade monetária, as transações correntes registraram superavit de US$ 1,47 bilhão em outubro, pelo terceiro mês seguido e o sexto mensal desde abril. Em outubro de 2019, houve deficit de US$ 8,1 bilhões.
“Seguindo a tendência dos meses anteriores, essa reversão ocorreu de forma disseminada, com aumento de US$ 3 bilhões no superavit da balança comercial de bens e reduções de US$ 4,5 bilhões e de US$ 2 bilhões nos deficits em renda primária e serviços, respectivamente”, explicou o BC, em nota publicada esta manhã.
Em 12 meses encerrados em outubro, o deficit em transações correntes somou US$ 15,3 bilhões, equivalentes a 1,04% do Produto Interno Bruto (PIB). O valor é inferior aos US$ 24,9 bilhões (1,64% do PIB) nos 12 meses terminados em setembro e o menor valor acumulado desde fevereiro de 2018, 0,97% do PIB.
As exportações de bens totalizaram US$ 18 bilhões em outubro, recuo de 8,6% ante outubro de 2019, enquanto as importações somaram US$ 13,1 bilhões, declínio de 26,3%. De janeiro a outubro de 2020, as exportações recuaram 7,8%, e as importações, 15,1%. O superavit comercial somou US$ 41,5 bilhões, acima dos US$32,5 bilhões observados no mesmo período de 2019.
Viagens internacionais
O deficit da conta de serviços atingiu US$ 1,6 bilhão no mês, recuo de 55,2% ante outubro de 2019, US$ 3,7 bilhões. “A conta de viagens internacionais continua a evidenciar os impactos da pandemia, com diminuição do deficit de US$ 1 bilhão, em outubro de 2019, para US$ 103 milhões, em outubro de 2020 (-90,2%) nas despesas líquidas.
Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, o desempenho das viagens internacionais sofre impacto da desvalorização cambial, que torna mais caro o turismo brasileiro no exterior. “Isso também está acontecendo agora na pandemia, a desvalorização cambial em relação ao ano passado, mas tem uma característica específica, com restrições a viagens e a própria reação dos turistas ou viajantes em adiá-las. Isso tornou o efeito muito mais intenso do que em anos anteriores”, explicou.
Rocha explicou que, além do efeito econômico da desvalorização cambial, há impacto sanitário e de regulação de diversos países para reduzir as viagens. “Há vários meses, a variação intranual, apresenta taxas de redução na faixa de 90%. Em outubro foi igual, de US$ 1 bilhão, em 2019, caiu para US$ 103 milhões, queda de 90%. Mesmo nível de redução nos últimos meses. Nessa conta, não parece haver algum sinal de alguma recuperação neste movimento. O resultado líquido de novembro, até dia 20, está na faixa de US$ 100 milhões também. O cenário não mudou”, afirmou.
Ainda na conta de serviços, conforme Rocha, houve redução nas despesas com transportes, porque a corrente de comércio está caindo. “Com menos exportações e recuo ainda maior nas importações, os gastos com transporte também são menores”, explicou. Outro dado com estabilidade, conforme o chefe de Estatísticas do BC, é a despesa com aluguel de equipamentos. “A queda foi de 48,5% agora em outubro, mais ou menos a mesmo de setembro”, afirmou.
Lucros e dividendos
Em outubro, o deficit em renda primária somou US$ 1,9 bilhão, recuo de 70,6% em relação a outubro de 2019. As despesas líquidas de lucros e dividendos atingiram US$ 919 milhões, comparativamente a US$ 4,2 bilhões em outubro de 2019. “Esse resultado decorreu da combinação do recuo nas despesas em US$ 2,8 bilhões, para US$ 2,2 bilhões, e do aumento nas receitas em US$ 520 milhões, para US$ 1,4 bilhão”, esclareceu.
Os gastos líquidos com juros somaram US$ 948 milhões, redução de 56% na comparação interanual, com queda de receita e de despesa. De janeiro a outubro de 2020, o deficit em renda primária totalizou US$ 34,1 bilhões, 27,9% inferiores aos US$ 47,3 bilhões no mesmo período em 2019.
Investimento
No mês, os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 1,8 bilhão, ante US$ 8,2 bilhões em outubro de 2019. O resultado de outubro de 2020 foi composto por entradas líquidas de US$ 2,8 bilhões em participação no capital e saídas líquidas de US$ 1 bilhão em operações intercompanhia. Nos 12 meses encerrados em outubro de 2020, o IDP totalizou US$ 43,5 bilhões, correspondendo a 2,94% do PIB, em comparação a US$ 49,9 bilhões (3,29% do PIB) acumulados em 12 meses no mês anterior.
Reservas
O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 354,5 bilhões em outubro, redução de US$ 2,1 bilhões em comparação ao mês anterior. O recuo decorreu de liquidação de vendas à vista no mercado de câmbio, de US$ 1,6 bilhão, e variações negativas por paridades e por preço, US$ 1 bilhão. A receita de juros somou US$ 425 milhões.
O BC também publicou nota com dados revisados. Para 2019, o efeito líquido da revisão das estatísticas do setor externo reduziu em US$ 230 milhões o deficit em transações correntes, de US$ 50,9 bilhões (2,77% do PIB) para US$ 50,7 bilhões (2,76% do PIB). “A revisão nas transações correntes decorreu integralmente da variação na renda primária, cujo deficit passou de US$ 57,5 bilhões para US$ 57,3 bilhões.”
“Na renda primária, a despesa total de lucros de investimento direto para 2019, apurada por meio do Censo, atingiu US$ 43,9 bilhões, aumento de US$ 96 milhões em relação à estimativa anteriormente publicada. Entretanto, sua composição foi alterada. Houve aumento de US$ 4,4 bilhões nas despesas de lucros remetidos e redução de US$ 4,3 bilhões nas despesas de lucros reinvestidos”, informou.
No balanço de 2020, a revisão mais significativa foi das estimativas de despesas de lucros de investimento direto, que aumentaram de US$ 10,8 bilhões para US$ 12,9 bilhões, em referência ao período de janeiro a setembro de 2020. “A revisão das demais contas da renda primária teve impacto líquido aproximadamente nulo”, disse.