Um Natal de poucas vendas e lembrancinhas de presente. É o que esperam empreendedores e consumidores para as festas de fim de ano. Dados da Pesquisa Nacional da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) sobre Endividamento e Inadimplência do Consumidor apontam que, no total, 66,5% das famílias brasileiras declararam estar endividadas em outubro deste ano. O percentual é relativamente menor em relação ao mês de setembro, quando 67,2% estavam nessa situação. Dos tipos de dívidas, 78,5% são referentes a cartões de créditos; em segundo lugar, aparece o carnê, com 16,4%.
A economista da CNC Izis Ferreira ressalta que a expectativa do comércio no período de Black Friday e Natal é positiva. Embora com certa precaução, diz, pois a parcela mais pobre, que precisava do auxílio emergencial, começou a receber apenas metade do valor e sofre a pressão inflacionária dos alimentos. “Temos menor capacidade de compra e o brasileiro, em geral, costuma evitar situação de inadimplência.”
Segundo a economista, apesar de tudo, as famílias mais pobres estão conseguindo reduzir o endividamento. “Desde o começo da pandemia, as famílias mais vulneráveis estão segurando o orçamento e conseguiram reduzir as dívidas. Movimento contrário ao que está acontecendo com as famílias que possuem renda acima de 10 salário mínimos, pois, depois de economizar nos primeiros meses da pandemia, agora, elas estão retomando seus gastos e se endividando. Em agosto, por exemplo, 57,8% das famílias com mais de 10 salários mínimos estavam endividadas. Em outubro, contudo, o número aumentou para 59,4%”, pontuou.
O Índice de Confiança dos Empresários do Comércio, do CNC, em novembro de 2019, marcava pouco mais de 122,5 pontos. Desde a chegada do novo coronavírus, contudo, desenhou uma linha de queda e, em junho, estava abaixo de 70 pontos. Mesmo com a recuperação alcançada a partir de julho, o mês de novembro mantém índice inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, e marca apenas 108 pontos.
Baixas expectativas
A confeiteira autônoma Maria Betânia da Silva, 42 anos, conta que as vendas reduziram desde o começo da crise sanitária. “Os números de venda de bolos vêm reduzindo, assim como o tamanho dos pedidos.” Maria confessa que sua expectativa para o fim do ano é pequena. “Acredito que apenas os clientes mais fiéis encomendarão algo e, mesmo assim, produtos mais simples e menores. Este ano, a ceia das famílias será reduzida, praticamente para pais e filhos.”
Para tentar contornar a situação, ela trabalha com caixinhas de bombons, cupcakes e pães de mel com temas natalinos. “Esses pequenos presentes na área da confeitaria são os que têm maior procura, porque são baratos, gostosos e interessantes para se dar de presente.”
Aparecida Pereira da Silva, proprietária da Imagine Presentes e Utilidades, na Asa Norte, ressalta que, neste ano, as festas possuem características particulares. “(As vendas) Estão mais voltadas para a afetividade, canecas com mensagem, lembrancinhas que remetem a algum momento especial e até mesmo que proporcione uma construção familiar. Alguns presentes seguem a lógica de serem montados, por exemplo, em família”, explicou. A comerciante conta que a loja pensou muito nesse aspecto afetivo justamente por perceber que esse era o critério fundamental na hora de as famílias escolherem as mercadorias que levariam para casa.
A economista pontua que o último trimestre do ano é significativo para o comércio de varejo e diz que os comerciantes estão com perspectiva favorável, mas que compradores provavelmente adotarão uma postura de cautela. “Algo que afeta o desempenho das vendas na festividade é a injeção de dinheiro, que será menor este ano, pois os pensionistas, por exemplo, já receberam parte do 13° no início da pandemia. Aqueles que tiveram contratos suspensos receberão o equivalente apenas aos meses trabalhados e os funcionários que tiveram redução da carga horária ainda não sabem como será feita a dinâmica com os empregadores — embora o governo tenha sugerido pagar o 13° integral”, explicou.