Setores tradicionais da economia, que sofrem com a concorrência de modelos disruptivos baseados em inovações tecnológicas, podem voltar a ter bons desempenhos em meio a um refluxo de tendência. A afirmação é do jornalista Guilherme Portanova, que participou do Inova Sebrae e, nesta sexta-feira (20/11), debate o tema Inovação durante o Correio Talks.
Para Portanova, talvez seja o momento de encarar a tecnologia como uma coisa transitória, que possa se esvair na próxima virada ou na próxima descoberta. "Alguns setores serão os primeiros a experimentar o refluxo. Não vão acabar com Google, Netflix ou Amazon, mas as formas tradicionais vão segurar uma parte importante”, explicou.
Segundo ele, as inovações tecnológicas passaram a primeira impressão de uma grande democratização. "Eu tenho carro, então, posso fazer transporte e aumentar minha renda. Eu quero ser vendedor, não preciso ter uma loja. Quero ser escritor, não preciso de editora, publico direto na Amazon", exemplificou.
No entanto, o grande mercado é concentrado. "Esse princípio de democratização, de fazer todos disputarem o mercado, essa primeira impressão é questionada neste momento porque as grandes estão concentrando o mercado. Poucos brigam por uma fatia gigantesca e milhões disputam migalhas", explicou.
Se em um primeiro momento, a inovação e a tecnologia são atrativas, com o tempo começa a surgir espaço para um redimensionamento, com a ressaca e a overdose dos dados, detalhou Portanova. "Os aplicativos que são vanguarda neste mês não servem para mais nada no mês seguinte. Então, a gente tem uma incerteza completa, inclusive, sobre o que está chegando", disse.
Por isso, o jornalista acredita que a tecnologia também possa ser uma coisa transitória. "Vou fazer uma analogia de aceleração mais lenta. Quando o homem mudou o encilhamento do cavalo da cabeça para o tórax, houve aumento na produtividade de alimentos. Com a revolução tecnológica do petróleo e a previsão do tempo, aumentou muito mais. Hoje, a febre passou por um refluxo. Os produtos mais caros são justamente os produzidos de forma artesanal, como os orgânicos produzidos como o avô fazia no interior da Calábria, mesmo que hoje se produza 30 vezes mais na mesma área que ele", assinalou.
"Eu gosto de tecnologia, sou um entusiasta, mas tem que usá-la com sabedoria, senão pode virar genocídio, pode ser que não sobrem migalhas", concluiu.