O ministro da Economia, Paulo Guedes, minimizou o recado das urnas de que o bolsonarismo perdeu espaço nas preferências do eleitorado brasileiro. Para ele, as "narrativas políticas" estão "equivocadas", porque a esquerda não saiu vencedora e a "coalização de centro-direita" que conquistou boa parte das prefeituras brasileiras no último domingo (15/11) é a mesma que ajudou a eleger o presidente Jair Bolsonaro em 2018.
"Dizem que o governo está sem coordenação política. Mas minha hipótese de trabalho é que, depois de 30 anos de centro-esquerda, existe agora uma coalizão política de centro-direita que está vencendo as eleições. Venceu a eleição de 2018 e agora ampliou a administração, do ponto de vista de prefeituras, no Brasil inteiro com os partidos de centro-direita", declarou o ministro, nesta quinta-feira (19/11), durante o Congresso Brasileiro de Previdência Privada.
Guedes lembrou que partidos de direita e centro-direita conquistaram muitas prefeituras na eleição do último domingo, ampliando o número de cidades que estão sob o seu comando. Citou especificamente o crescimento do DEM, PP, PSB e PTB e afirmou que "a mesma aliança de centro-direita que ganhou a eleição de 2018 continua ampliando seu espectro de votos".
"Não se refere a um candidato ou só ao nosso governo, mas a partidos de centro-direita", disse o ministro, que definiu o governo de Jair Bolsonaro como uma "aliança de conservadores nos costumes e liberais na economia" várias vezes no discurso desta quinta-feira.
Guedes concluiu, então, que "há muitas leituras equivocadas da eleição, como se tivesse uma vitória enorme da esquerda", já que "a esquerda perdeu muitas prefeituras".
Extrema-direita
O avanço de uma nova esquerda contudo, não é o único recado desta eleição, segundo os analistas. Para cientistas políticos, o resultado do pleito municipal de domingo também revelou um enfraquecimento da extrema direita que ajudou a eleger Jair Bolsonaro em 2018, bem como do próprio bolsonarismo. Afinal, poucos dos candidatos que tiveram o apoio expresso do presidente Jair Bolsonaro sagraram-se vencedores nas urnas.
Logo após o resultado das eleições, o cientista político da Unirio, Guilherme Simões Reis, disse que "Bolsonaro se mostrou um cabo eleitoral fraco, diferente do que ocorreu dois anos atrás, quando teve muito sucesso". O cientista político Antônio Lavareda acrescentou que "o bolsonarismo sai arranhado dessas eleições, pois o presidente não conseguiu colocar muitos dos seus candidatos no segundo turno e o bolsonarismo se apresentou sem partido, disperso e desorganizado".
A avaliação dos especialistas é de que o fortalecimento de partidos tradicionais como o MDB e o DEM apontam para o retorno da política tradicional, em detrimento dos discursos radicais e da polarização que imperou nas eleições de 2018.
"Em 2018, a extrema direita bolsonarista apareceu com muita força. T também surgiram muitas candidaturas outsider. Agora, os mais variados partidos lançaram candidaturas ligadas à segurança pública, com o intuito de repetir essa onda. Mas o cenário foi de muita reincidência, com a reeleição de muitos prefeitos e políticos tradicionais se mostrando competitivos", avaliou Reis. "Foi uma eleição mantenedora, de continuidade. Isto é, sem a onda de mudanças que experimentamos em 2018", reforçou Lavareda.