O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que algumas regiões brasileiras parecem caminhar para uma segunda onda da pandemia do novo coronavírus. E garantiu que, se for confirmada, a segunda onda será enfrentada pelo governo, apesar de ressaltar que este não é o plano de trabalho atual. Na semana passada, Guedes disse que uma segunda onda de covid-19 poderia justificar a prorrogação do auxílio emergencial.
"Algumas regiões parecem estar acusando isso [um retorno, uma segunda onda]. Mas não é um fenômeno geral", declarou Paulo Guedes, nesta quinta-feira (19/11), durante o Congresso Brasileiro de Previdência Privada. Ele acrescentou que, se esse quadro se confirmar, o governo vai enfrentar a nova onda de infecções pelo novo coronavírus como uma guerra que, em vez de durar um ano, durou dois anos. "Enfrentaremos como enfrentamos antes. Sabemos enfrentar uma crise", assegurou.
Guedes garantiu que não haverá populismo e que o teto de gastos será respeitado pelo governo, mesmo diante do risco de uma segunda onda. "Se a doença vier, estamos em outra dimensão. Já sabemos como temos que agir", emendou. Ele ressaltou ainda que esta não é a hipótese de trabalho do governo atualmente. "Não é nosso plano. Nosso plano é seguir com as reformas. Agora, sabemos reagir a eventuais choques", esclareceu.
Na semana passada, o ministro afirmou que, se houver uma segunda onda da pandemia de covid-19 no Brasil, o auxílio emergencial será prorrogado com certeza. A declaração, contudo, causou ruídos no governo e no mercado. Afinal, o auxílio emergencial vai custar mais de R$ 321 bilhões neste ano, e a equipe econômica vem defendendo a retomada do ajuste fiscal no próximo ano — tanto que o governo ainda não conseguiu encaixar o plano de criar um novo programa social no Orçamento de 2021.
Em razão desse impasse, Guedes tentou ajustar seu ponto de vista. Ainda na semana passada, disse que um novo programa não é o prioridade do governo no momento. Na sexta-feira (13/11), ele disse que o "plano A" é acabar com o auxílio emergencial em 31 de dezembro e aterrissar no Bolsa Família em 2021. E nesta quinta-feira, reforçou que hoje o governo prevê uma retomada do crescimento econômico no próximo ano, com uma alta do Produto Interno Bruto (PIB) entre 3% e 3,4% em 2021.
Renda Brasil
O ministro também indicou que, apesar da vontade do presidente Jair Bolsonaro e do Congresso de criar um substituto para o auxílio emergencial em 2021, ainda não há uma solução para o Renda Brasil. Ele lembrou que 96% do Orçamento já estão comprometidos pelas despesas obrigatórias do governo e lembrou que há uma "briga feroz" pelos outros 4%.
Guedes incitou, então, a classe política a "ter coragem" de retomar o controle dos orçamentos públicos para pode decidir onde devem ser aplicados os recursos. Para ele, isso poderia ser feito por meio da desvinculação, da desindexação e da desobrigação do Orçamento — medida que pode entrar na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo, que o Congresso pretende votar após o segundo turno das eleições municipais para tentar abrir espaço no Orçamento para o Renda Brasil.
O ministro disse, inclusive, que é preciso decidir se o Brasil vai cortar gastos ou aproveitar programas já existentes se quiser criar um novo programa social. As duas propostas já foram apresentadas pela equipe econômica como uma forma de financiar o Renda Brasil. Porém, foram vetadas pelo presidente Bolsonaro, que decidiu não congelar aposentadorias, nem "tirar dos pobres para dar aos paupérrimos".