O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu, nesta terça-feira (17/11), que a piora nas contas públicas é um dos principais fatores de risco para a recuperação da economia daqui para frente. E também um dos motivos de desconfiança dos investidores, pois o Brasil é o país que tem as maiores taxas de dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) entre os emergentes.
Durante evento realizado pela Federação Brasileiro de Bancos (Febraban) sobre riscos, Campos Neto admitiu que a percepção de risco de investidores estrangeiros que saíram do país aumentou devido à questão fiscal, especialmente, diante dos ruídos políticos durante a pandemia e do questionamento sobre a manutenção do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação. "O Brasil, claramente, sofreu uma deterioração devido às incertezas de que o teto não vai ser respeitado”, admitiu. “A saída de estrangeiros ficou mais concentrado em Bolsa, mas é preciso fazer com que esse movimento de entrada volte”, defendeu.
De acordo com o ministro, o aumento dos juros de títulos públicos de longo prazo mostra que o mercado vem cobrando cada vez mais prêmios de risco diante da piora do quadro fiscal. “O que preocupa o mercado é o volume de rolagem muito concentrado e o fato de o Tesouro ter que encurtar a dívida”, afirmou ele, justificando uma recente ação coordenada do BC com o Tesouro Nacional para tentar tranquilizar o mercado sobre os instrumentos disponíveis.
Contudo, ele reconheceu que a diminuição das incertezas estão relacionadas com medidas para o controle efetivo do aumento dos gastos públicos.
O aumento no desequilíbrio fiscal e das desconfianças sobre a questão fiscal colocou o Brasil no grupo dos países em que o câmbio foi mais desvalorizado e os investidores estão com menos apetite ao risco, ao lado de Turquia, África do Sul, México, Índia e Colômbia. “Esse grupo não teve uma recuperação muito boa e um dos fatores de diferenciação com os demais é exatamente a dívida”, disse Campos Neto, durante o evento, lembrando que a dívida pública bruta do Brasil deve ficar entre 90% e 95% do PIB neste ano. “É muito importante que somos o pior país em nível de endividamento”, afirmou.
Inflação
Em contrapartida, Campos Neto minimizou os riscos de aumento da inflação devido à alta dos alimentos, algo que ocorreu na maioria dos países durante a pandemia. Ele reforçou que a taxa de inflação continua “dentro da meta neste ano e no ano que vem”. “Um grupo de economistas entende que o é um efeito temporário e haverá arrefecimento. Temos uma tranquilidade em relação à inflação”, frisou.
Para Campos Neto, as medidas fiscais que o país adotou no combate à pandemia, por serem maiores do que os países emergentes, ajudou no processo de recuperação em curso, que vem sendo a taxas maiores do que a outros países em desenvolvimento. "O PIB do Brasil foi o que menos caiu entre emergentes e tem apresentado recuperação do varejo mais rapidamente também", afirmou. Ele acrescentou que as projeções para o PIB de 2020 têm melhorado e "já começa a haver melhora afetando também 2021".
Ao comparar a recuperação da economia brasileira com outros países desenvolvidos, Campos Neto tomou cuidado em admitir que a recuperação rápida em V está em curso diante do arrefecimento do ritmo de crescimento de vários países da Europa. Para ele, o que vai determinar essa recuperação serão os dados do terceiro trimestre do PIB, que deverá ser divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e novas revisões nas estimativas do mercado para este ano e o próximo. "Se ocorrer for confirmada a alta perto de 9% (registrada no IBC-Br), a gente vai ter algumas revisões para melhor em 2020 e isso coloca um carry over (taxa de carregamento) de 2,7% a 3% que deverá melhorar as perspectivas para 2021", explicou.
PIX
O presidente do BC, ao comentar o primeiro dia de operação do Pix, plataforma de transações financeiras digitais, disse que o sistema foi bem sucedido, com mais de 1 milhão de operações nessa segunda-feira (16). Apesar de alguns problemas no cruzamento das informações, Campos Neto disse que as taxas baixas de operações rejeitadas foram baixas e próximas das taxas das TEDs. "O número de 7% de rejeição foi baixo e nenhuma rejeição ocorreu por instabilidade. Foram problemas de cruzamento, de comparação de dados. Todos os sistemas tiveram problemas no começo", afirmou.