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Desemprego entre empregadas domésticas é maior que a média geral

Analistas chamam a atenção de que a taxa de desemprego da categoria é maior do que a média geral, especialmente para aqueles que não têm carteira assinada. Isso porque é mais fácil mandar embora quem não tem vínculo formal com o emprego

Dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) mostram que o desemprego está voltando no meio da pandemia, e, nesse cenário, os trabalhadores domésticos estão sendo os mais afetados. O número desses profissionais chegou a 4,6 milhões, de acordo com a última Pnad Contínua, no trimestre encerrado em agosto, o menor patamar da história.


Segundo analistas ouvidos pelo Correio, a taxa de desemprego do trabalhador doméstico vem sendo maior do que a média geral, especialmente entre aquele sem carteira, o mais prejudicado durante a crise porque é mais fácil desligar quem não tem vínculo trabalhista.


“De julho para setembro, a população ocupada bateu o fundo do poço e começou a ter algum aumento, mas, no caso do trabalhador doméstico, isso não está acontecendo. E esse tipo de profissional é o que está mais registrando perdas no momento”, destacou Marcos Hecksher, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que fez um levantamento mensal da evolução do desemprego usando como base as Pnads Covid e Contínua.


“O desemprego dos trabalhadores domésticos caiu 32,6% entre fevereiro e julho, mais ou menos dois terços, incluindo os com e sem carteira. Essa queda desde fevereiro foi muito forte e não houve recuperação”, salienta.


Alexandre Almeida, economista da CM Capital, estima que o setor de serviços domésticos apresente queda de 27,51% de toda a população ocupada, pela análise da Pnad Contínua em sua comparação anual. “Entretanto, se compararmos o mesmo período da população ocupada total da economia, a queda é de 12,78%, ou seja, significativamente inferior à redução na categoria de serviços domésticos. Esse segmento apresenta uma taxa de queda na população ocupada e um crescimento inferior na remuneração média habitual, que em, boa parte, é absorvida pela inflação corrente. Em contrapartida, a população ocupada total da economia, apesar de exibir uma queda relevante, mostra uma recuperação substancial na remuneração média anual que pode ser explicada pela política de auxílio emergencial”, observou.

Rota de subida


A taxa de desemprego no país bateu o recorde da série histórica da pesquisa, de 14,4%, no trimestre encerrado agosto, de acordo com dados da Pnad Contínua. Contudo, estimativas dos analistas indicam que esse indicador pode ultrapassar facilmente 15% nos próximos meses, batendo novos recordes históricos até meados de 2021.


Além disso, eles alertam que a realidade do mercado de trabalho não é tão cor-de-rosa quanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, costuma pintar. Basta incluir nessa conta os desalentados –– pessoas que não procuram mais emprego ou estão fora pesquisa do IBGE porque sabem que não adianta sair em busca de trabalho em plena recessão. Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), estima que, com isso, o desemprego total poderia chegar a 33% –– ou seja, um terço da força de trabalho, em grande parte devido ao crescimento no número de desalentados.


“O desemprego estava tendo uma redução lenta no começo da pandemia, mas a tendência é aumentar nos próximos meses, em virtude da redução do auxílio emergencial e, posteriormente, o fim do benefício no ano que vem”, destaca. Segundo Duque, no caso dos trabalhadores domésticos, os direitos trabalhistas e questões culturais vinham levando à queda nesse tipo de atividade.
“Com a pandemia, as pessoas perderam muita renda e cortaram despesas. E esse (serviço doméstico) é um gasto importante para a maioria das famílias de classe média”, destacou.


Para Duque, “as pessoas vão se adaptando a conviver com o trabalho doméstico, tendem a prescindir desse tipo de serviço, que costuma ser um gasto elevado para as famílias”, salientou.
O pesquisador do Ibre rebate afirmação de Paulo Guedes de “que o desemprego gerado durante a pandemia, até setembro, é menor do que na recessão de 2015 e 2016”. “A tendência é de o desemprego aumentar porque há um contingente expressivo da força de trabalho que está fora do mercado devido ao auxílio e vai voltar a procurar emprego com o fim do benefício”, afirmou.