Com a pandemia do novo coronavírus e o fechamento dos principais aeroportos estrangeiros a brasileiros, por conta da segunda onda em países da Europa e nos Estados Unidos, destinos nacionais devem ser os mais procurados nos feriados de fim de ano. Desde setembro, quando os casos de covid-19 e as mortes provocadas pela doença começaram a diminuir no Brasil, hotéis, resorts, pousadas, agências de viagens e empresas de transporte buscam resgatar o tempo perdido, sem alívio para o bolso dos turistas. Por isso, as opções domésticas podem custar o equivalente a uma viagem ao exterior. Para se ter uma ideia, o aluguel de uma casa em Trancoso, Sul da Bahia, está variando entre R$ 300 mil e R$ 1 milhão por mês.
O economista Hugo Passos explica que o setor de turismo ainda sofre o impacto negativo da pandemia. “De acordo com o levantamento da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP), o prejuízo soma R$ 42 bilhões desde o início da crise sanitária. Em setembro, os serviços de hospedagem e alimentação caíram 38,4% e o transporte aéreo, 35,5%. Ainda há restrições aos serviços de hospedagem e os assentos da aviação estão reduzidos. Isso mostra que a recuperação é lenta”, afirma.
Para especialistas do setor, a demanda por voos e viagens começou a ser retomada em setembro. John Rodgerson, presidente da Azul, chegou a afirmar, em evento virtual, que os brasileiros voltaram a amar seu próprio país. “Nós estamos superanimados, cada vez mais as pessoas estão viajando para mais partes do Brasil.”
No mesmo evento, Fernando Pantaleão, vice-presidente de Soluções e Vendas para o Comércio da Visa do Brasil, garantiu estar otimista com a retomada, sobretudo com o aumento nos gastos dos turistas. “Está clara a retomada de volume financeiro. Estamos vendo uma recuperação importante dos valores transacionados. Em setembro e outubro, foi muito forte.” Um dos motivos, segundo os próprios turistas, é que as viagens estão muito caras.
A família da jornalista Victoria Basques, 22 anos, decidiu viajar para Natal (RN) neste fim de ano. “Eu vou com a minha mãe e meus avós, do dia 8 a 14 de dezembro. Nós estávamos planejando essa viagem para o início deste ano, mas, devido à pandemia do coronavírus, decidimos adiar”, conta. A ideia inicial era ir para Porto Seguro. “Porém, não tem vôo direto para lá. Teria que fazer escala. Para Natal, mesmo com a passagem mais cara, o voo é direto”. Com isso, a família vai aproveitar para fazer um agrado aos avós. “Meu avô é de uma cidade no interior do Rio Grande do Norte chamada Santana do Mato. Vamos visitar a cidade dele e reviver algumas coisas para que eles possam se divertir, pois, depois de todo o isolamento social, estão precisando”, diz. “Com todos os cuidados possíveis”, acrescenta.
A decisão, no entanto, pesou no bolso. Para Victoria, as passagens estão muito caras, “Eu pensei que os preços iriam baixar por não ter muita gente viajando. Mas, o que pagamos para ir a Natal, só com passagens, é quase o que gastaríamos para ir para Nova York ou para algum país da Europa”, lamenta. Mesmo planejando a viagem, Victoria reconhece que não é momento certo para viajar. “Tem toda a questão de aglomeração, de usar a máscara, de não poder visitar alguns pontos turísticos e não ter contato com outras pessoas. Só estamos indo porque meus avós estavam com muita expectativa”, revela.
A estudante Ana Paula Canuto, 23, ainda não tirou a ideia do papel, mas pretende viajar em dezembro. “Estou entre Jericoacoara e Rio de Janeiro. Jeriquaquara, porque não conheço, e Rio, para ir a novos lugares”, conta. “Muitas coisas voltaram a funcionar. Fim de ano é época de festas, um momento em que todo mundo aproveita para desestressar, pois a pandemia deixou todos tensos. Foi um período difícil. Nada melhor que fechar com uma boa viagem. Mas, claro, seguindo todas as normas de segurança, pois saúde em primeiro lugar”, completa.
*Estagiária sob a supervisão de Simone Kafruni