O comércio exterior brasileiro deve focar, cada vez mais, na Ásia, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele argumentou que este será o próximo eixo de crescimento mundial e avisou que essa migração só tende a crescer, caso o Brasil seja “maltratado” pelos Estados Unidos e pela Europa. A declaração ocorre em meio à resistência do presidente Jair Bolsonaro de reconhecer a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
“Se nos tratarem mal do lado de cá, vamos para o lado de lá”, disse Guedes, ontem, durante o Encontro Nacional do Comércio Exterior (Enaex). O ministro acrescentou que essa migração já começou, pois, hoje, o Brasil exporta mais para a China e o Japão do que para os EUA e a Argentina. “Toda atenção aos americanos, toda atenção aos europeus. Mas, o Brasil já se moveu e já está indo para o ponto futuro. O eixo de crescimento do mundo está na Ásia”, afirmou.
Os números da balança comercial brasileira já mostram que a China é o principal parceiro comercial do país. De janeiro a outubro, as exportações do Brasil para a Ásia cresceram 10,25%. E a alta foi de 12,5% quando se trata apenas da China, que tem recebido cada vez mais commodities brasileiras e registrou um aumento de US$ 31,8 milhões na média diária de importações de produtos brasileiros. Para os Estados Unidos, as exportações despencaram 29,6%, com uma queda de US$ 34,7 milhões na média diária, e o comércio bilateral chegou ao pior nível dos últimos 11 anos.
Segundo o ministro, o Brasil vai exportar US$ 1 trilhão para a China nos próximos 10 anos e também deve aprofundar as relações comerciais com a Índia. Para Guedes, a Índia e a China serão os grandes mercados globais, e o Brasil pode ser a “fábrica de alimentos do mundo”.
“Foco no Oriente Médio, foco na Ásia, foco na rota para a Índia. É o caminho das Índias novamente”, disse Guedes aos exportadores, lembrando que as vendas externas do agronegócio têm ajudado a impulsionar a economia brasileira neste ano de pandemia.
Dançando com todos
O ministro voltou a dizer que o Brasil quer “dançar com todo mundo” no comércio exterior, já que passou os últimos anos fechado e, agora, pretende abrir a economia para o exterior. Por isso, garantiu que “estamos totalmente abertos para aprofundar as relações comerciais” com os EUA, inclusive acompanhando o desenvolvimento do acordo comercial que foi assinado recentemente com os americanos.
Dois dias atrás, Guedes havia dito que “não é uma personalidade aqui ou nos Estados Unidos que vai afetar a relação entre os dois países”. Afirmara, ainda que, “se confirmada a eleição de Biden, não devemos ter problema algum”. Mas, depois disso, o presidente Jair Bolsonaro subiu o tom contra Biden, que vem cobrando mudanças na política ambiental brasileira para a Amazônia. O presidente chegou a usar um tom ameaçador, quando disse que a pólvora vem depois que a diplomacia não é suficiente para obter entendimento. Ontem, Guedes disse que “há muito interesse comercial por trás” do discurso de proteção ao meio ambiente.
“Não podemos aceitar a ideia de que nós, em um ano e meio de governo, estamos mudando o clima mundial. São narrativas políticas. Temos que estar atentos a isso. Temos total simpatia de países avançados que querem ajudar, mas vemos, também, a exploração do tema por países protecionistas que querem impedir o avanço da nossa agricultura”, reclamou.
O ministro ainda assegurou que o governo tem “consciência de que temos que fazer a nossa parte, o nosso dever na preservação do meio ambiente”. E admitiu que o país precisa “descobrir formas verdes de avançar economicamente na região da Amazônia”. (MB)
!Toda atenção aos americanos, toda atenção aos europeus. Mas, o Brasil já se moveu e já está indo para o ponto futuro. O eixo de crescimento do mundo está na Ásia”
Paulo Guedes, Ministro da Economia