MERCADO

Ibovespa ultrapassa os 103 mil pontos e sobe 2,5% com otimismo global

Notícias sobre a eficácia de vacina americana contra covid-19 e euforia pós-vitória de Joe Biden nos EUA impulsionam alta na bolsa brasileira, que chegou ao melhor patamar desde julho

As eleições nos Estados Unidos já geravam otimismo no mercado americano antes mesmo de a apuração dos votos apontar a vitória do agora presidente eleito Jon Biden (Democratas). Mas o que se viu no mercado nesta segunda-feira (9/11) foi uma alta generalizada, com disparada nas bolsas ao redor do mundo. No caso da B3, a bolsa brasileira, o índice Ibovespa ultrapassou o patamar de 103 mil pontos pela primeira vez em quatro meses, com alta de 2,5% no fim do pregão.

A alta no país seguiu o otimismo no mercado internacional. Nos EUA, o índice Dow Jones renovou sua máxima histórica intraday, com fechamento em 2,95%. Apesar de o presidente Donald Trump se posicionar fortemente contra o resultado apurado ao alegar fraudes sem apresentar provas e divulgando informações inverídicas, o mercado entende que a possibilidade de reversão do resultado é mínima, segundo especialistas.

Vacina

Outro fator apontado como importante para o aumento do apetite por risco de investidores foi o anúncio da farmacêutica americana Pfizer, que divulgou que sua vacina em parceria com a BioNTech tem eficácia superior a 90% de imunização contra covid-19 com base em dados preliminares da fase 3 de testes — etapa em que os estudos são feitos em humanos, em grande quantidade.

Para Vitória Saddi, sócia da SM Futures, é natural que o mercado americano esteja otimista logo após a eleição de Joe Biden. Isso, segundo ela, é tradição em anos eleitorais. "Todos os anos que há eleição nos EUA, logo em seguida a bolsa sobe brutalmente celebrando as instituições democráticas e a democracia, de certa forma. Isso influenciou aqui. Haverá uma realização e pode ser que caia amanhã (terça-feira), mas esperamos um movimento de alta a partir de quarta-feira", disse ela.

Saddi acredita que o movimento de alta deverá ser duradouro e utilizou o exemplo das eleições de 2016, quando o otimismo durou meses, logo após a eleição de Donald Trump para a presidência da República. "A alta durou até o final de janeiro, quando reduziu o ritmo. O mercado vê em Biden um político moderado, nada próximo ao que é o Bernie Sanders, por exemplo, que também é um Democrata, só que mais extremo. Biden pode subir impostos, mas é moderado. Então esse movimento não é fogo de palha no mercado americano, a menos que algo muito ruim aconteça. No momento, trabalhamos com a possibilidade do dólar fraco e valorização do real", disse.

Dólar

O dólar comercial ficou volátil durante todo o dia e fechou em estabilidade, vendido a R$5,39. A moeda americana, no entanto, desenha uma tendência de desvalorização. No câmbio com a moeda brasileira, há expectativa de que o dólar esteja pressionado até o fim do ano. É o que explica João Luiz Mascolo, professor de economia do Insper. Segundo ele, isso se deve à obrigatoriedade imposta a bancos para a compra de dólares — mecanismo de proteção contra variação cambial conhecido como overhedge.

"Eles terão ter que comprar US$ 15 bilhões até o fim do ano, o que vai gerar mais pressão no dólar", disse. Ele destacou também a fala do diretor de política econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, na última sexta-feira (6), que afirmou que o BC deverá intervir no câmbio no fim do ano diante do grande fluxo esperado.

O economista também citou a fala do ministro Paulo Guedes na semana passada sobre o dólar e disse que ela tem certo sentido. Na última sexta-feira, Guedes afirmou em uma live promovida pelo banco Itaú que com o dólar valendo R$ 5,50, o país não precisa de tantas reservas internacionais. Na ocasião, ele explicou que com a mudança de estratégia econômica, com juros mais baixos, é natural que o câmbio flutue.

"Até que faz sentido. Política de juros altos é uma coisa que sempre praticamos aqui. Se falta disciplina fiscal, os juros altos atuam como uma âncora monetária. A consequência de manter juros altos, é que isso mantém o real valorizado. A equipe econômica do governo Bolsonaro, no entanto, mudou as coisas. Esperava-se que a âncora fosse fiscal, mas houve certos problemas com a chegada da pandemia no que diz respeito às reformas", disse Mascolo.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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