DIGITALIZAÇÃO FINANCEIRA

Moeda digital foi acelerada pela pandemia, diz Campos Neto

Presidente do Banco Central ressaltou, contudo, que o projeto, confirmado nesta quarta-feira (04/11) por Paulo Guedes, é de longo prazo

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a pandemia de covid-19 acelerou o processo de digitalização financeira que deve levar à emissão de uma moeda digital no Brasil. Porém, admitiu que ainda há mais perguntas do que respostas em relação à novidade, admitida nesta quarta-feira (04/11) pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

"A gente vai para um processo de ter uma moeda digital em algum momento. E acredito que esse processo foi acelerado na pandemia pela quantidade de pagamentos à distância e compras on-line", declarou Campos Neto, em live realizada na noite desta quarta-feira, pouco depois de Guedes ter cravado que o Brasil terá uma moeda digital durante uma cerimônia que contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Campos Neto lembrou que já há até um grupo de trabalho estudando a emissão de uma moeda digital no Banco Central. Porém, ponderou que este é um processo de longo prazo, que vem depois de mecanismos como o Pix, o open banking e a modernização da legislação cambial. "São fases. Antes disso (da moeda digital), a gente precisa ter uma moeda mais internacionalizada, mais simples e mais digitalizada. A gente vai ao longo desse caminho, vai junto com o Pix e o open banking, em um processo que culmina lá na frente com a moeda digital", avaliou.

Ele disse ainda que tanto no grupo de trabalho do BC, quanto em outros bancos centrais ainda há mais dúvidas do que respostas em relação à moeda digital. Entre os questionamentos levantados por Campos Neto estão a possibilidade de os próprios consumidores poderem emitir suas moedas digitais, de haver o pagamento de juros e rastreabilidade dessa moeda.

O que já está claro para o BC é que essa moeda digital teria um lastro no real. "É como se o BC bloqueasse uma quantidade de moeda e emitisse o real digital", contou Campos Neto, que, apesar de todas essas dúvidas, já disse ver espaço para a emissão dessa moeda digital no Brasil em 2022.

Pix

Roberto Campos Neto indicou ainda que o Pix ocupa uma parcela importante desse projeto de digitalização do mercado financeiro. É que, segundo o presidente do BC, o sistema de pagamentos instantâneos vem justamente para atender às demandas que, nos últimos anos, levaram os consumidores a buscar criptomoedas. "As pessoas estavam fazendo negócios com bitcoins porque demandavam uma forma de pagamento rápida, barata, transparente, segura e aberta. [...] A ideia de fazer o Pix foi atendendo essa necessidade", afirmou.

O chefe da autoridade monetária ainda garantiu que não há nenhuma "pegadinha" no sistema de pagamentos instantâneos, nem no interesse dos grandes bancos de cadastrarem as chaves Pix dos seus clientes. Ele reforçou, inclusive, que o Pix será gratuito para as pessoas físicas e deve ser mais barato que os outros meios de pagamento para as empresas.

"Os bancos estão interessados em ter o maior número de chaves possível porque quando você faz uma transação por um banco acaba conectado a esse banco e acaba comprando outros serviços bancários", argumentou. Ele lembrou ainda que esta briga está acirrada porque mais de 760 instituições financeiras já estão aptas a fazer pagamentos instantâneos e porque as fintechs têm levado boa parte das chaves Pix.

Roberto Campos Neto garantiu também que o Pix não vem para acabar com outros meios de pagamento, apesar de ter o potencial de levar boa parte do mercado que hoje é ocupado por DOC, TED e cartão de débito. Ele alegou que o objetivo do BC é ampliar cada vez mais a competição do sistema financeiro nacional. E indicou que, nesse sentido, a autoridade monetária está perto de liberar o funcionamento da ferramenta de pagamentos do WhatsApp no Brasil.

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