MERCADO

Ibovespa sobe quase 2% e dólar cai com eleição nos EUA

Enquanto durar a disputa na terra de Tio Sam, a tendência é de desvalorização contínua do dólar frente ao real, dizem especialistas

A “onda azul” segue dominando as preferências mundiais em quase todos os continentes e os investidores não desgrudam o olho das atualizações, em tempo real, que apontam os detalhes das eleições para a presidência dos Estados Unidos. Os analistas do mercado financeiro, que antes demonstravam preferência pelo atual presidente norte-americano Donald Trump, rapidamente se converteram e já compraram a possível vitória do candidato Joe Biden. “O mercado se adapta. Não pode perder tempo”, resume Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

Nesse cenário, o dólar comercial fechou em queda de 1,75% frente ao real, cotado a R$ 5,659, para compra, e a R$ 5,661, para venda. O Ibovespa, índice que mede o desempenho das principais ações da bolsa de valores brasileira (B3), encerrou o dia em alta de 1,9% aos 97.805 pontos. Na Europa, o movimento também foi positivo. No Reino Unido, a valorização foi de 1,67%. Na Alemanha, avanço de 1,95%. Na França, alta de 2,44%. E na Itália, incremento de 1,96%.

E enquanto durar a acirrada e histórica disputa na terra de Tio Sam, a tendência é de desvalorização contínua do dólar frente ao real, de acordo com José Roberto Carreira, operador de câmbio da Corretora Fair. “Biden anunciou um pacote trilionário para debelar os efeitos da pandemia na economia americana, o que vai beneficiar os mercados emergentes, entre eles o Brasil”, afirmou Carreira.

Por outro lado, afirmou o especialista, o apoio de vários países da Europa e a anunciada intenção do candidato Biden de ajuda de US$ 30 bilhões para combater os estragos dos incêndios na Amazônia podem ser um dado positivo – mesmo que de forma compulsória - para o país. “O Brasil vai ter que se ajustar às novas políticas de meio ambiente, o que poderá de alguma forma colaborar na imagem do país lá fora e no retorno de investimentos e financiamento externos”, reforçou Carreira.

 

O que seduzia o mercado doméstico era justamente a redução de impostos corporativos das empresas americanas, uma iniciativa de Trump, explica Jason Vieira. “Mas Biden promete o mesmo tipo de estímulo. E, a rigor, para o Brasil, Trump não fez nada de concreto - embora tendo apresentado uma gestão eficiente de seu país. Para nós, nenhuma vantagem nas relações comerciais”, lembrou o economista-chefe da Infinity Asset. No entanto, seja qual for o resultado das eleições americanas, as incertezas vão continuar.

Os investidores continuarão acompanhando de perto o desenrolar das medidas para conter os impactos econômicos da pandemia pelo novo coronavírus. “Não se sabe como a Europa vai conseguir lidar com essa segunda onda, ou se os EUA vão precisar enfrentar a crise sanitária com novos estímulos. Tudo isso está em aberto”, reforçou Vieira. No mercado interno, as questões não são menos desafiadoras.

“Se Biden for eleito, é quase certo que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, seja substituído. O vice-presidente, Hamilton Mourão, deve ganhar um protagonismo maior. Se as questões ambientais ficarem mais sérias, o Brasil tem a saída de se aproximar mais da China, por exemplo. Mas será que vai ser esse o caminho escolhido pelo governo? Enfim, há muita coisa que precisa ser desenhada”, enfatiza Vieira.

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