Produtores de leite reclamam de custos elevados, falta de incentivo do governo e do alto volume de importações de laticínios do Mercosul. Segundo Geraldo Borges, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), além do aumento do valor dos insumos de grãos, principal ingrediente utilizado na alimentação das cadeias de produção de proteína animal, como leite, ovos e carnes em geral, há o risco de desabastecimento do setor.
Geraldo Borges foi entrevistado, ontem, no CB.Agro — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, e comentou diversos problemas que a produção de leite enfrenta. “O preço dos insumos de milho e soja, por exemplo, aumenta o custo de produção dos ovos e das carnes em geral. Além disso, tivemos um grande volume de exportação no início do ano, o que revela, na verdade, uma falta de planejamento. Exportamos muito esses grãos e, agora, estamos comprando soja dos Estados Unidos”, lamentou.
Borges ressalta que a desvalorização do real é um dos motivos para o aumento das exportações desses insumos. Em algumas regiões, segundo ele, os preços dobraram. “Há uma falta de planejamento de abastecimento no Brasil. Essa grande exportação é boa se pensarmos apenas na cadeia do milho e da soja, mas, se analisarmos a balança comercial do país como um todo, se nota que é necessário um planejamento melhor”, disse.
De acordo com o presidente da Abraleite, os altos valores dos insumos e a falta de incentivo do governo para o setor trazem o risco de os produtores decidirem abandonar a atividade. “O momento é crítico e houve uma importação altíssima de leite uruguaio e argentino. Ou seja, os insumos estão em um preço alto e a arroba bovina está convidativa para que o produtor de leite descarte suas matrizes, com redução drástica do número de animais. Em 2021, há o risco de uma crise de abastecimento devido a esses fatores, e o Brasil desincentiva a produção nacional importando um alto volume de leite estrangeiro”, queixou-se.
Borges afirmou que o setor de produção de leite já precisava de ajuda antes da pandemia e ressaltou que os danos no setor também afetam a sociedade como um todo e causam desemprego. “Temos quase 1,2 milhão de propriedades produtoras de leite em 99% dos municípios. Ou seja, o leite está presente em quase todos os municípios brasileiros e gera algo em torno de 5,5 milhões de empregos no campo, diretamente ligados à produção, e algo em torno de 20 milhões de empregos na cadeia leiteira como um todo”, pontuou.
De acordo com Borges, os produtores enfrentam também a falta de infraestrutura. “Os pequenos produtores não possuem assistência técnica no país. E também há problemas estruturais, como de energia elétrica, que afeta desde o pequeno ao grande produtor. Em todos os estados, temos problemas com isso. Além disso, as vias rurais usadas para a distribuição do leite são altamente problemáticas. No fim, o custo de produção e os custos de transporte são elevados, o que torna nossa cadeia menos competitiva”, finalizou.
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
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