A última vez que a bolsa de valores brasileira esteve na casa dos 110 mil pontos foi também o dia em que o primeiro caso de covid-19 foi confirmado no país, em 26 de fevereiro. Após seis milhões de casos, 170 mil brasileiros mortos e restrições impostas pelo isolamento social, os investidores do mercado financeiro parecem finalmente ter esperanças de que as coisas vão melhorar.
Voltar ao patamar de fevereiro parece um pequeno pulo: no pregão desta terça-feira (24/11), o índice Ibovespa fechou em forte alta de 2,24%, aos 109.786 pontos. Próximo ao fechamento, a bolsa chegou a bater 109.944 pontos. O clima positivo começou ainda na segunda-feira, quando o mercado tomou conhecimento de que a vacina contra covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca apresentou mais de 90% de eficácia nos testes realizados.
Já nesta terça, a Rússia anunciou que sua vacina, a Sputnik V, tem 95% de eficácia após a segunda dose. Esta é a mesma taxa de sucesso divulgada na semana passada pela americana Pfizer. Na ocasião, a farmacêutica afirmou que sua candidata, produzida em parceria com a alemã BioNTech, também possui 95% de eficácia, com base terceira fase de testes.
O otimismo do mercado, porém, também tem outro motivo: o presidente americano Donald Trump parece finalmente ter aceitado a possibilidade de uma derrota nas eleições presidenciais americanas para o democrata Joe Biden, que venceu nas urnas. Na noite de segunda-feira, ele afirmou, em seu Twitter, que solicitou à Emily Murphy, chefe da Administração de Serviços Gerais, que inicie os protocolos de transição de governo. Até então, Trump protestava contra o resultado do pleito.
Para Renan Silva, economista da Bluemetrix Ativos, esse é um passo importante, pois o mercado temia uma transição de governo conturbada. "À medida que as ações do Trump perderam sentido e foram recusadas, e ocorreram algumas desistências, isso acalmou os ânimos. Esse anúncio indica que Biden passa a ter acesso a dados importantes e parte para o campo da ação, implementando a equipe econômica e fazendo projeções", avalia.
Em fase de montagem da equipe, Biden escolheu a ex-presidente do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), Janet Yellen para a secretaria do Tesouro. O mercado recebeu bem o nome, uma vez que Yellen tem um histórico de ser favorável a estímulos à economia.
Nesta terça, o dólar comercial caiu 1,06% e encerrou vendido a R$ 5,37. Já os contratos futuros do ouro para entrega em dezembro também caíram, com recuo de 1,80% – menor patamar desde julho. Isso, segundo Renan Silva, é um indicativo de que os investidores estão se sentindo bem para arriscar mais nos investimentos.
"Há um aumento de confiança. Agora se enxerga uma perspectiva de retomada real, naturalmente por causa das vacinas. E aí as pessoas começam a desfazer suas posições de segurança. Há uma reentrada de recursos estrangeiros no país. Você tem uma migração de recursos de câmbio e ouro (ativos de segurança) para opções de maior risco, como a bolsa", pontua.
Já no cenário doméstico, o destaque do dia foi a divulgação do IPCA-15 (prévia da inflação), que avançou 0,81% – maior taxa em novembro desde 2015. O resultado é menor que o mês passado, quando foi de 0,94%. O setor mais afetado é o de alimentos. Entre janeiro e o resultado parcial de novembro, o avanço da inflação foi de cerca de 3,13%, abaixo da meta inflacionária do Conselho Monetário Nacional (CMN), como explica Silva.
"A gente não pode esquecer que a meta inflacionária é em torno de 4%. E temos menos que isso no acumulado do ano. Por isso o governo se sente confortável para manter a taxa básica de juros (Selic), que devem continuar baixos para o próximo ano", aposta o economista. Ele estima ainda que, para 2021, a taxa de juros de ficar em torno de 3%, com a possibilidade de subir para 3,50% em 2022. "Faz sentido para recuperar a economia", completou.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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