O Ministério da Economia melhorou as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB), revisando a estimativa de queda da atividade deste ano de 4,7% para 4,5%, devido à melhora nos indicadores econômicos do terceiro trimestre. Em meio à recessão provocada pela pandemia de covid-19, manteve em 3,2% a previsão de crescimento do PIB no ano que vem.
A pasta prevê avanço de 8,3% no PIB do terceiro trimestre sobre os três meses anteriores, puxado por indústria (com alta de 11,3%) e serviços (alta de 8%). A projeção do órgão para a inflação deste ano passou de 1,8% para 3,13%, conforme dados do Boletim Macrofiscal, divulgado nesta terça-feira (17/11). No ano que vem, a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 3,23%.
Durante a apresentação dos dados, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, foi taxativo em afirmar que considera mínima a chance de uma segunda onda de contágio de covid-19, porque tem "dois doutores em estatística" com dados para garantir essa afirmação.
"Os nossos estudos na SPE indicam que a probabilidade de uma segunda é baixa. Eles indicam que vários estados atingiram, ou estão muito próximos de atingir, imunidade de rebanho", afirmou, sem citar quais unidades federativas estariam nessa situação Ao ser questionado sobre que indicador é considerado nesse assunto, ele disse que leva em consideração "contaminação de 20% da população" para falar em imunidade de rebanho.
Sachisida voltou a afirmar que os indicadores estão apresentando retomada rápida, "com curva em V", como indústria e varejo, mas reconheceu que o setor de serviços, segmento que ainda está demorando para dar sinais de retomada e de recuperação dos patamares pré-crise. Ele apostou que serviços "devem puxar o crescimento do PIB do quarto trimestre".
Auxílios e emprego
Na avaliação do secretário, a retomada está bastante endereçada, porque há R$ 110 bilhões em recursos de auxílios emergenciais e de preservação de emprego que devem ser injetados na economia até janeiro de 2021. "Temos valores suficientes para garantir a tração e a retomada econômica", disse Sachsida. "Nossos dados mostram que vamos retomar em meados de dezembro a patamares pré-covid", acrescentou.
O secretário disse ainda que aposta no crescimento do emprego em 2021, na contramão das previsões do mercado de que a taxa de desemprego deverá crescer nos próximos meses e ao longo do ano que vem. "O emprego vai aumentar em 2021. Os dados são muito claros que o grosso do desemprego está vindo do setor informal", disse ele, sem dar números de qual será a taxa desse avanço na empregabilidade. "Os dados que nós temos mostram para um dado concreto que é a retomada da atividade da economia. Estamos muito convictos que, a partir de outubro, o setor de serviços vai garantir tração necessária para garantir crescimento do PIB", disse.
Riscos fiscais
O economista reconheceu a preocupação com os riscos fiscais, mas rebateu críticas de que o governo não tem plano para evitar aumento de gastos no ano que vem em função de novas medidas de combate à crise, como novo programa de renda mínima para substituir o Bolsa Família, para o qual o governo não tem encontrado fontes de financiamento sem estourar o teto de gastos — emenda constitucional que limita o crescimento das despesas à inflação.
Apesar de, recentemente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não ter descartado a recriação do auxílio emergencial no caso de uma segunda onda e após um novo decreto do estado de calamidade, Sachisida evitou comentar sobre essa possibilidade ou mesmo alternativas para um novo programa de renda mínima. "Prefiro não dar respostas concretas a perguntas hipotéticas. Um dos deveres da SPE é preparar medidas econômicas para cenários de contingência. Mas, repito: acho baixíssima a possibilidade de segunda onda", disse. "Caso ocorra, vamos estar preparados", garantiu.
O chefe da SPE ainda rebateu críticas à falta de planos mais claros para o controle dos gastos públicos no ano que vem que podem elevar ainda mais a dívida pública bruta, reduzindo as chances de retomada da economia. Ele reconheceu, contudo, que a agenda de consolidação fiscal, que prevê as privatizações, está andando muito lentamente. "Ao contrário do que algumas pessoas podem argumentar, se o governo gastar muito, o PIB cai, os juros aumentam e o investimento privado cai. A consolidação fiscal está no melhor interesse da população. Não é questão ideológica", afirmou.
"Com a consolidação fiscal, os juros continuam baixo, o investimento privado cresce, o PIB também cresce e a renda do trabalhador cresce", acrescentou. Ele garantiu que o governo não abriu mão dessa agenda e que, no ano que vem, "mais de 100 projetos com edital pronto devem ir a leilão".
Enxugamento
Além disso, disse que o governo continuará buscando o enxugamento dos bancos públicos. Na semana passada, Guedes falou em privatizar quatro estatais, incluindo Correios e Eletrobras, "até o fim do ano que vem", em resposta às críticas sobre as promessas no início do governo em arrecadar R$ 1 trilhão com a venda de estatais.
"As pessoas querem que essa agenda avance em uma semana. As coisas são passo a passo", afirmou Sachsida, sem reconhecer a série de promessas não cumpridas no primeiro ano de governo, ou seja, antes da pandemia. "Vamos aprovar todas as medidas necessárias de consolidação fiscal. Não é verdade que estamos devagar na privatização. O processo é lento. Em uma democracia, tem que construir consenso e eles estão sendo construídos", afirmou.
O secretário diz ter "confiança de que o governo vai endereçar a questão fiscal no Brasil", mas não comentou sobre quais serão os mecanismos de curto prazo para conseguir caminhar nessa trajetória enquanto reformas estruturais na área fiscal e até mesmo o Orçamento de 2021 ainda não foram discutidos pelo Congresso.
Microcrédito
Durante a apresentação, Sachsida destacou que, entre os dias 11 e 15 de novembro, houve crescimento de 40% nas operações de crédito para micro e pequenas empresas realizadas pelo mecanismo PAC Maquininhas, aprovado pelo Congresso. O tíquete médio dos empréstimos gira em torno de R$ 30 mil, segundo ele, que citou Moneyplus e Safra como os líderes da operação. Ele citou ainda Banco do Brasil e Caixa como novos operadores desse sistema e adiantou que Bradesco e BMG devem entrar nesse mercado "em breve".
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