A Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) estima que nos próximos 20 anos a biotecnologia industrial pode somar cerca de US$ 53 bilhões à economia brasileira, se durante as duas décadas forem investidos US$ 132 bilhões. O investimento traria cerca de 217 mil novos postos de trabalhos ao fim do período; e se a biotecnologia alcançar o rendimento de US$ 53 bilhões, a arrecadação de impostos seria de US$ 9,5 bilhões anuais.
Contudo, para alcançar esses resultados, o Brasil deve inserir a bioeconomia como estratégia de crescimento. É o que afirma o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. “Precisamos aproveitar esse momento para construir as bases para avançar, já que o Brasil é o país com maior potencial nessa agenda”. O presidente da CNI aponta que a bioeconomia seria uma alternativa para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. “A floresta em pé passa a gerar mais riquezas e, com isso, aumenta o seu valor frente às outras alternativas”.
É o que pensa, também, Ana Carolina, diretora de Propriedade Intelectual e Compliance da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). “O setor passa por uma transformação de redução de uso de compostos químicos e aumento na inserção de materiais biológicos nos medicamentos, o que pode trazer uma vantagem para o Brasil, que tem a maior biodiversidade do mundo”, diz ela.
Um exemplo disso é o Grupo Centroflora, de São Paulo, que produz óleos essenciais e ativos isolados para a indústria farmacêutica. A empresa reuniu uma biblioteca inédita de produtos naturais com extratos da flora de quatro biomas brasileiros: Caatinga, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. O objetivo é coletar essas plantas e encontrar as substâncias “mais preciosas e reunir esse acervo no que pretende ser uma das maiores bibliotecas de produtos naturais do mundo”, explica Cristina Ropke, diretora de Inovação da empresa.
Mas o avanço da bioeconomia depende do aperfeiçoamento do sistema de inovação do Brasil. O professor Roberto Berlinck, do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que é necessária a liberação dos recursos para não interromper as pesquisas. Ele explica que o investimento em pesquisas volta em forma de resultados para o país.
Atualmente, Berlinck se dedica a pesquisar substâncias anti-cancerígenas da própolis vermelha, extraída de colmeias em Alagoas, que são mais raras que as própolis verde, amarela e marrom. “Tínhamos um conhecimento tradicional que relacionava o uso da própolis vermelha com a inibição de células cancerígenas. E isso se comprovou nas pesquisas, quando descobrimos substâncias isoladas da classe dos polifenóis (antioxidantes vegetais)”, revela.
Para obter o resultado e chamar atenção para a bioeconomia, o Instituto Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de Inovação em Biossintéticos, em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), estão com projeto de emenda parlamentar para desenvolver um estudo econométrico para ajudar o país a alavancar a bioeconomia. “A proposta é dividir esse estudo por partes, começando pelas grandes cadeias brasileiras, como cana-de-açúcar e celulose, com dados detalhados para avaliar a viabilidade econômica de produtos a partir dessas cadeias”, explica Paulo Coutinho, diretor do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos.
Desafios da bioeconomia
Davi Bomtempo, gerente-executivo de meio ambiente e sustentabilidade da CNI, explica o conceito de bioeconomia, que traz consigo várias definições de acordo com o país e região. Bomtempo pontua, contudo, que a CNI trabalha o modelo por meio de algumas palavras-chaves: “geração de renda e de riqueza, recursos biológicos e de emprego de tecnologia e inovação alinhada com a sustentabilidade. Ou seja, a bioeconomia é a geração de renda e riqueza a partir dos recursos biológicos com a implementação da tecnologia e inovação”.
O especialista ressalta que o Brasil tem uma grande vantagem em comparação com outros países, pois o país possui 20% de toda a biodiversidade do planeta, sendo que 15% se encontram na Amazônia. “Além disso, temos a produção de biomassa em níveis baixos. Temos uma grande quantidade de mão de obra, uma vasta área cultivada e experiências bem sucedidas em relação ao biocombustível, no caso, o etanol. A grande questão é transformar essas vantagens que o Brasil tem em uma vantagem competitiva”
Bomtempo esclarece, porém, que a agenda da bioeconomia não é de fácil implementação. Para ele, é preciso um trabalho árduo na difusão dos conceitos que envolvem esse modelo e a explicação de qual será o retorno para o Brasil.
E ressalta alguns pontos que são essenciais para o desenvolvimento da bioeconomia. “É preciso de um governo mais articulado com o tema da bioeconomia, temos vários blocos na Esplanada, mas ainda fragmentados, e é necessário uma coordenação dessa agenda muito mais intensa. Também é necessário uma maior integração do desenvolvimento de tecnologia e inovação com as indústrias, ou seja, aproximar academia e setor produtivo. Por fim, é preciso financiamento e incentivo econômico para essa agenda”, finaliza.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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