O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a afirmar que a economia brasileira está se recuperando em V da recessão provocada pela pandemia de covid-19. Durante conversa com economistas do Itaú Unibanco no evento Macro Vision 2020, realizado nesta sexta-feira (06/11), o chefe da equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro fez questão de demonstrar que continua otimista com a economia, a despeito do aumento dos riscos de uma segunda onda de contágio, como vem ocorrendo na Europa, e das incertezas na condução da política fiscal — o governo ainda não conseguiu um acordo para iniciar as discussões da Lei de Diretrizes Orçamentárias e do Orçamento de 2021 com menos de dois meses para o fim do ano.
Para ele, as pressões inflacionárias são temporárias e a autonomia do Banco Central vai ajudar a fazer com que os juros continuem baixos baixos e o dólar mais caro, sem que haja interferência dos governante em época de eleição. Guedes reconheceu também que um dos maiores desafios será o controle de gastos. "Vamos derrubar a dívida pública e isso é parte fundamental da nossa estratégia, que tem como modelo juro baixo e cambio mais valorizado mesmo", afirmou ele, sinalizando que, em algum momento, o nível atual de reservas não será mais necessário no futuro.
O ministro reforçou que a economia "estava decolando no início do ano", antes da pandemia, e disse que o ritmo de recuperação da atividade e de criação de emprego “são impressionantes”. “A volta é literalmente em V”, garantiu. Ele citou que, como novos cargos estão sendo criados desde junho, o país deverá encerrar o ano com um número de vagas fechadas menor do que na recessão de 2015 e de 2016. “Devemos criar emprego até o fim do ano e o ritmo de perdas de emprego vai ser bem menos do que naquele período (de recessão)”, afirmou ele, durante a introdução no evento do Itaú.
Pelas contas de Guedes, entre 2015 e 2016, mais de 1 milhão de vagas foram fechadas sendo 650 mil até setembro de 2015; e 687 mil, em 2016. “Até setembro deste ano, 550 mil vagas foram fechadas. Isso mostra o vigor da retomada”, comparou.
"Normalidade"
Na avaliação do ministro, a crise de covid-19 está controlada e a economia está voltando à normalidade. “A pandemia foi um período muito difícil. Tivemos bastante incerteza. Há desdobramentos importantes, mas agora, a pandemia está descendo e a economia está voltando. O Brasil está dando uma respirada e voltou para as agendas de reformas. Nunca perdemos o norte em direção a isso", disse.
Guedes retomou a analogia do ataque às torres do inimigo que prometeu no início do governo, sendo uma delas, o controle de gastos. Nesse sentido, segundo ele, o congelamento do salário do funcionalismo por três anos deverá garantir uma redução de R$ 90 bilhões para os governos estaduais e de R$ 68 bilhões para o governo federal. “São quase R$ 160 bilhões de aumentos que não serão concedidos. Isso é muito importante, porque é a essência para um regime fiscal robusto”, afirmou.
De acordo com o ministro, o ajuste fiscal buscará desmontar a trajetória descontrolada de gasto publico e, com a reforma administrativa enviada ao Congresso, apesar de não incluir os atuais servidores, o governo vai conseguir garantir uma economia de R$ 300 bilhões em 10 anos, no mínimo, considerando uma taxa de reposição de 70% prevista na proposta. Ele acrescentou que, com os processos de digitalização dos serviços será possível reduzir o número de contratação de servidores para reposição de vagas em caso de aposentadorias, podendo, assim, fazer com que a economia passe para R$ 400 bilhões ou R$ 500 bilhões.
Nesse processo de digitalização, ele citou a agenda do Banco Central com o Pix, as fintechs e o open banking e lembrou que vem prometendo a moeda digital. “A moeda digital está vindo aí e o lobo guará terá vida curta”, alegou ele, fazendo alusão a recém-criada cédula de R$ 200.
PIB
Outra torre que Guedes disse que pretende atacar é a dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). “Nós derrubamos a dívida no primeiro ano, desalavancando os bancos públicos, devolvendo dinheiro para a União", disse ele, garantindo que o governo e o Congresso vão retomar a agenda de reforma nos marcos regulatórios para facilitar o investimento privado e, assim, estimular a retomada do crescimento.
Ao ser questionado sobre privatizações de venda de estatais dependentes de recursos da União e que custam quase R$ 20 bilhões por ano para os cofres públicos como forma de abrir espaço fiscal para a criação do programa de renda mínima que deverá substituir o Bolsa Família, Guedes falou que os prejuízos das estatais para o governo chegam a R$ 40 bilhões. Apesar de não conseguir deslanchar o programa de privatizações, o ministro defendeu que esse caminho é a ideia dele para a "transformação do estado", mas não passou cronograma e programas nesse sentido.
"Muita gente tem saudade de programas de planejamento central, mas estamos caminhando para uma economia de mercado e, nela, isso não existe. Isso é muito vago e nossa preocupação será com três, quatro, cinco grandes problemas", disse ele, citando como exemplo, infraestrutura, segurança hídrica e tecnologia 5g e nos marcos regulatórios para estimular investimento, como o do gás, a da navegação de cabotagem e a nova lei de falências, que estão na pauta do Congresso.
Na avaliação do ministro, a economia "está funcionando muito bem". Ele voltou a defender o Renda Brasil como nome do novo programa social, apesar de Bolsonaro ter proibido o termo e vir defendendo junto com a base aliada o termo Renda Cidadã. Gostaríamos que houvesse o Renda Brasil, consolidando programas sociais fiscalmente sólidos. Podemos transformar estatais independentes e acelerar o investimento. Estamos indo para uma economia de mercado. É o nosso sonho, estamos perseguindo isso", afirmou.
Autonomia do BC
O ministro demonstrou visível satisfação com a recente aprovação pelo Congresso do projeto de autonomia do Banco Central, algo que era esperado por ele desde a redemocratização, quando participou da elaboração do programa econômico do então candidato à presidência Guilherme Afif Domingos, que hoje é assessor dele no ministério. “Isso estava na pauta. Imagine a minha satisfação disso virar realidade. Eu não achei que fosse demorar 30 anos”, afirmou ele, confessando que achava que a autonomia do BC poderia ocorrer em três anos.
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