RISCO FISCAL

"Há uma luz vermelha acesa no mercado", diz Campos Neto sobre risco fiscal

Para presidente do BC, Brasil precisa mostrar aos investidores que vai retomar disciplina fiscal no pós-pandemia

Marina Barbosa
postado em 04/11/2020 22:03 / atualizado em 04/11/2020 22:04
 (crédito: Marcello casal Jr/CB/D.A Press - 7/4/20)
(crédito: Marcello casal Jr/CB/D.A Press - 7/4/20)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (04/11) que existe uma luz vermelha no mercado dizendo que o Brasil já passou do ponto em que os gastos públicos são produtivos e, por isso, deve voltar à disciplina fiscal. Ele voltou a defender, portanto, o teto de gastos e o ajuste fiscal como formas de incentivar a retomada do crescimento econômico.

"A gente entende, olhando a reação dos mercados e dos agentes financeiros, que existe uma luz vermelha acesa dizendo 'olha, você passou do ponto de inflexão e precisa voltar à disciplina fiscal'", declarou Campos Neto, ao ser questionado, em uma live, sobre as discussões que hoje colocam em xeque a sustentabilidade das contas públicas e a manutenção do teto de gastos no Brasil.

O presidente do BC argumentou que, em um momento de endividamento elevado como o brasileiro, o aumento dos gastos públicos torna-se contraproducente porque coloca em xeque a credibilidade fiscal do país, o que provoca uma elevação dos juros e afasta os investimentos privados, reduzindo o crescimento econômico. "Às vezes, eu posso estar entendendo que vou colocar dinheiro e melhorar a economia, mas na verdade eu posso ter feito o contrário porque o efeito credibilidade pode ser maior que o efeito expansionista", alertou.

Ele lembrou que essa falta de credibilidade já tem elevado a taxa longa de juros, que baliza os financiamentos de longo prazo e, por isso, afeta os investimentos produtivos que podem contribuir com a retomada econômica. Por isso, disse que o Brasil precisa passar a mensagem de que vai voltar à disciplina fiscal após esse momento de gastos extraordinários da pandemia de covid-19.

Copom

Campos Neto, contudo, não citou as discussões que hoje deixam o mercado receoso quanto ao rumo das contas públicas. Para analistas, contudo, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nessa terça-feira (03/11), deixou claro que medidas "criativas" como o uso de precatórios no financiamento do Renda Brasil têm o mesmo potencial de afetar a credibilidade e elevar os juros que uma possível derrubada do teto de gastos.

Autonomia

Por outro lado, o presidente do BC destacou a importância do projeto de lei que confere autonomia ao Banco Central, que foi aprovado nessa terça-feira pelo Senado e agora segue para votação na Câmara dos Deputados. Ele disse que a autonomia desvincula a política monetária do ciclo político. Por isso, assegura que o BC não vai sofrer pressões políticas na busca pela estabilização da moeda e pelo controle da inflação. É uma garantia que, segundo o chefe da autoridade monetária, passa mais credibilidade ao mercado e pode atuar no sentido oposto ao dos riscos fiscais na curva longa de juros. "Dá mais credibilidade ao sistema e remove incertezas que existem na parte longa dos juros. Com isso, passamos a ter a oportunidade de ter uma inflação mais controlada com todo o mais constante", defendeu.

 

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