O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (04/11) que existe uma luz vermelha no mercado dizendo que o Brasil já passou do ponto em que os gastos públicos são produtivos e, por isso, deve voltar à disciplina fiscal. Ele voltou a defender, portanto, o teto de gastos e o ajuste fiscal como formas de incentivar a retomada do crescimento econômico.
"A gente entende, olhando a reação dos mercados e dos agentes financeiros, que existe uma luz vermelha acesa dizendo 'olha, você passou do ponto de inflexão e precisa voltar à disciplina fiscal'", declarou Campos Neto, ao ser questionado, em uma live, sobre as discussões que hoje colocam em xeque a sustentabilidade das contas públicas e a manutenção do teto de gastos no Brasil.
O presidente do BC argumentou que, em um momento de endividamento elevado como o brasileiro, o aumento dos gastos públicos torna-se contraproducente porque coloca em xeque a credibilidade fiscal do país, o que provoca uma elevação dos juros e afasta os investimentos privados, reduzindo o crescimento econômico. "Às vezes, eu posso estar entendendo que vou colocar dinheiro e melhorar a economia, mas na verdade eu posso ter feito o contrário porque o efeito credibilidade pode ser maior que o efeito expansionista", alertou.
Ele lembrou que essa falta de credibilidade já tem elevado a taxa longa de juros, que baliza os financiamentos de longo prazo e, por isso, afeta os investimentos produtivos que podem contribuir com a retomada econômica. Por isso, disse que o Brasil precisa passar a mensagem de que vai voltar à disciplina fiscal após esse momento de gastos extraordinários da pandemia de covid-19.
Copom
Campos Neto, contudo, não citou as discussões que hoje deixam o mercado receoso quanto ao rumo das contas públicas. Para analistas, contudo, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nessa terça-feira (03/11), deixou claro que medidas "criativas" como o uso de precatórios no financiamento do Renda Brasil têm o mesmo potencial de afetar a credibilidade e elevar os juros que uma possível derrubada do teto de gastos.
Autonomia
Por outro lado, o presidente do BC destacou a importância do projeto de lei que confere autonomia ao Banco Central, que foi aprovado nessa terça-feira pelo Senado e agora segue para votação na Câmara dos Deputados. Ele disse que a autonomia desvincula a política monetária do ciclo político. Por isso, assegura que o BC não vai sofrer pressões políticas na busca pela estabilização da moeda e pelo controle da inflação. É uma garantia que, segundo o chefe da autoridade monetária, passa mais credibilidade ao mercado e pode atuar no sentido oposto ao dos riscos fiscais na curva longa de juros. "Dá mais credibilidade ao sistema e remove incertezas que existem na parte longa dos juros. Com isso, passamos a ter a oportunidade de ter uma inflação mais controlada com todo o mais constante", defendeu.
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