A crise causada pelo novo coronavírus levou a mais um recorde do desemprego. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 13,8 milhões de pessoas estão sem trabalho no país. Por isso, a taxa de desemprego chegou a 14,4% no trimestre encerrado em agosto. Analistas dizem, contudo, que essa taxa ainda deve subir, apesar de o governo enxergar uma “retomada em V” do emprego Brasil.
Os dados do desemprego foram divulgados ontem pelo IBGE por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), um dia depois de o Ministério da Economia ter comemorado a criação de 313 mil vagas de trabalho com carteira assinada em setembro. E revelam que cerca de 1,1 milhão de pessoas entraram na fila do desemprego só entre os meses de junho, julho e agosto, o que representa um aumento de 8,5% da população desocupada.
Analista da Pnad Contínua, Adriana Beringuy creditou o aumento da taxa de desemprego à flexibilização das medidas de isolamento social. Ela lembrou que muitos dos brasileiros que foram demitidos no início da pandemia de covid-19 não saíram logo à procura de uma nova ocupação por conta do distanciamento social. Só agora que a circulação urbana está retomando, portanto, essas pessoas estão começando a buscar um novo trabalho e, consequentemente, a pressionar a taxa de desemprego.
“Esse aumento da taxa está relacionado ao crescimento do número de pessoas que estavam procurando trabalho. No meio do ano, havia um isolamento maior, com maiores restrições no comércio, e muitas pessoas tinham parado de procurar trabalho por causa desse contexto. Agora, a gente percebe um maior movimento no mercado de trabalho em relação ao trimestre móvel encerrado em maio”, explicou Adriana. Ela admitiu, por sua vez, que, além disso, também continuam ocorrendo demissões, mesmo que em menor proporção que no auge da pandemia.
Economistas dizem, no entanto, que o avanço do desemprego foi maior que o esperado no trimestre encerrado em agosto. E avisam que a tendência é que essa taxa continue subindo. Afinal, os dados do IBGE também mostram que, além de 13,8 milhões de desempregados, o Brasil tem 5,9 milhões de desalentados que podem entrar na busca por um emprego nos próximos meses.
Segundo o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o real tamanho do estrago causado pela pandemia de covid-19 no mercado de trabalho brasileiro só vai ser conhecido no primeiro semestre do próximo ano. Afinal, muitos brasileiros também não estão procurando emprego por conta dos auxílios emergenciais, mas podem partir em busca de uma ocupação quando essa ajuda chegar ao fim.
“Enquanto a economia não voltar a ganhar pujança, vamos ver pessoas saindo às ruas para procurar emprego e, possivelmente, não encontrando”, alertou. Ele disse ainda que é por conta disso que, apesar de o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) já ter apontado três meses de criação de vagas formais, o desemprego continua subindo. “A velocidade de criação de vagas ainda é inferior à velocidade com que as pessoas estão saindo para procurar emprego”, analisou.
Retomada lenta
Étore e outros analistas acreditam, então, que a taxa de desemprego pode chegar a 16% no início de 2021. E não veem uma retomada da economia forte o suficiente para reabsorver esse pessoal no curto prazo. Um dos indícios de que a retomada será lenta também está na Pnad Contínua, de acordo com o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. Ele destacou que, segundo o IBGE, a massa de rendimentos dos trabalhadores brasileiros caiu 5,7% nos últimos 12 meses, ou seja, perdeu R$ 12,3 bilhões e chegou a R$ 202 bilhões. E essa redução, lembrou Perfeito, deve puxar para baixo o consumo das famílias brasileiras, que é um dos grandes motores da economia brasileira. “Esse dado diz muito do patamar da demanda doméstica e deixa claro que, se não tivermos o auxílio emergencial, o estrago será ainda maior”, frisou.
No entendimento dos analistas, o resultado do desemprego, portanto, só aumenta a pressão por uma definição das políticas sociais e econômicas que serão implementadas pelo governo no pós-pandemia. E ainda reforça a pressão pela derrubada do veto à desoneração da folha, que será apreciado na próxima semana pelo Congresso. “Se a desoneração não for renovada, muitas empresas podem ter dificuldade no custeio da folha de pagamento e isso pode aumentar ainda mais o desemprego, pois o benefício atende aos 17 setores que mais empregam no país. Por isso, esse veto deve ser derrubado, mesmo sendo custoso para o governo”, opinou o professor de ciências econômicas do Centro Universitário Iesb Luis Guilherme Alho.
Nesta semana, contudo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, avisou que não vai apoiar a desoneração enquanto o Congresso não apontar uma fonte de receitas que compense essa perda de receita. Ele defende a recriação da CPMF como uma forma de custear a desoneração da folha, mas decidiu deixar o imposto “morto” por conta das críticas dos parlamentares. Guedes ainda disse que vê uma recuperação em V do emprego no Brasil, com base nos dados do Caged. E o secretário especial de Previdência de Trabalho, Bruno Bianco, reforçou esse discurso. Para Bianco, os próximos meses serão positivos em termos de criação de vagas formais.