O índice Ibovespa, o mais importante da Bolsa brasileira, a B3, fechou o último pregão do mês de outubro com mais uma queda expressiva, recuando 2,72%, aos 93.952 pontos, nesta sexta-feira (30/10). O resultado negativo é mais um em uma semana marcada por alta volatilidade no mercado financeiro. A confusão foi causada pelo avanço da segunda onda de covid-19 na Europa, que tem forçado autoridades a retomar o fechamento de fronteiras e comércio.
A bolsa passou por diversas reviravoltas ao longo de outubro: alcançou o patamar de quase 102 mil pontos no dia 22, mas depois desenhou queda. Na última semana, o índice chegou a cair mais de 4% em um único dia, com diversos momentos em que todos os papéis registrados apresentavam queda. O tombo acumulado na semana chegou a 7,39%. No total do mês, a queda acumulada no Ibovespa foi de 0,88%. No ano, o recuo total foi de 18,91%.
Marco Harbich, estrategista da Terra Investimentos, explica que a volatilidade da bolsa foi causada devido a uma série de fatores no mercado internacional. “A dúvida em relação à covid-19 no mundo foi um fator que impactou a estabilidade do mercado. Além disso, há o impasse da liberação de estímulo fiscal nos Estados Unidos e a incerteza a respeito do resultado das eleições no país, somado ao grande aumento de casos na Europa e às novas medidas de restrição na Alemanha e França”, explica.
O prazo para a votação nas eleições presidenciais americanas termina na próxima terça-feira, dia 3 de novembro. O mercado tem receio de que, se confirmada uma vitória de Joe Biden (Democratas) sobre o atual presidente Donald Trump (Republicanos) por uma pequena vantagem, Trump recorra e peça revisão dos resultados. No mercado americano, o índice S&P, um dos principais dos EUA, fechou o dia com queda de 1,21%. Dow Jones encerrou o pregão com queda de 0,59%.
Para Harbich, é difícil prever o impacto que o vencedor das eleições estadunidenses terá no Brasil e no mundo. Ele ressalta que há estimativas que apontam que pode levar sete, dez e até 15 dias para os votos serem contabilizados.
Mercado interno
Harbich também ressalta que, no cenário doméstico, as incertezas fiscais do Brasil são outro agravante para a situação delicada na Bolsa. “Tivemos o aumento da relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e não vemos nenhuma atitude que caminhe para o corte de gastos. O governo está preocupado em fazer manobras para direcionar as receitas, mas não está fazendo nada para cortar gastos porque isso é impopular”, pontua.
Para Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, outubro foi um mês marcado pela recuperação, pelo menos até o dia 22. “É um cenário que iniciamos o mês com 94 mil pontos, saímos para uma recuperação de mercado, principalmente do setor financeiro que estava muito abalado, no entanto, voltamos para o patamar inicial, sem crescimento em outubro”, afirma.
Dólar
No câmbio, a instabilidade também foi visível. O dólar comercial apresentou queda de 0,47% nesta sexta, a R$5,737, na compra; e R$5,738, na venda. Bertotti explica que o dólar ganhou força em outubro porque investidores escolhem a moeda norte-americana para fazer proteção de carteira, algo que é rotineiro, pois ela é vista como porto seguro em momentos de crise.
Embora o mês tenha sido de reviravoltas, Bertotti avalia que a bolsa ainda apresentou resultados positivos, com bancos alcançando resultados acima das expectativas. “Apesar de tudo tivemos temporada de resultados bons, mas isso foi ofuscado pelos novos casos de coronavírus na Europa, as medidas de restrição e lockdown na Alemanha e França e as eleições americanas”.
Ele ainda afirma que é difícil prever como será o tom nos mercados nas próximas semanas, mas, apesar de forte queda, também existem boas notícias no horizonte. “A nossa realidade é diferente da que tínhamos em março, a forma de lidar com o vírus é diferente. Estamos mais próximos de uma vacina do que estávamos antes e também já conhecemos mais sobre a doença”, completa.
*Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro