A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia acredita que, em meados de dezembro, o Brasil já terá retomado o nível de circulação urbana pré-pandemia. Por isso, aposta que a retomada da economia e do emprego vai continuar ganhando tração.
As projeções sobre a redução do isolamento social foram apresentadas pelo secretário Adolfo Sachsida em live com o mercado financeiro nesta quarta-feira (28/10). Ele destacou que os dados foram coletados pela Secretaria de Política Econômica e não norteiam as políticas de saúde do governo, mas indicam que o "retorno seguro ao trabalho" poderá ocorrer já a partir de janeiro.
"Os dados que temos indicam que o distanciamento social vai retornar ao nível de fevereiro em meados de dezembro e que alguns estados estão próximos da imunidade de rebanho, quando usa uma linha de corte de 20%", revelou Sachsida. Ele frisou que não há um consenso sobre o percentual adequado da imunidade de rebanho, com autores falando de uma imunidade de 70% e outros de apenas 20%, como considera a pasta.
O secretário ainda estimou que cerca de 200 mil pessoas podem deixar o isolamento social só na cidade de São Paulo na passagem do inverno para a primavera. Isso porque os estudos da Secretaria de Política Econômica também indicam que, à medida que a temperatura aumenta, o distanciamento social cai.
"Do ponto de vista econômico, os dados dão segurança de que, em meados de dezembro, teremos uma movimentação parecida à de fevereiro e, a partir de janeiro, se tudo ocorrer como estamos imaginando, teremos o retorno seguro ao trabalho", declarou Sachsida.
Emprego
Com a redução do isolamento social, a perspectiva da Secretaria de Política Econômica é de que o setor de serviços, que está demorando mais a se recuperar do choque causado pela pandemia de covid-19, ganhe tração. E isso tende a impulsionar a retomada da economia e do emprego do Brasil, já que o setor responde por cerca de 2/3 do Produto Interno Bruto (PIB) e do mercado de trabalho do país.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego bateu o recorde de 14,4% na pandemia de covid-19. E alguns analistas dizem que essa taxa ainda vai crescer, já que muitas pessoas ainda não estão procurando emprego devido ao isolamento social e ao pagamento de benefícios como o auxílio emergencial. Para esses analistas, o pico do desemprego só será sentido no primeiro trimestre de 2021.
Sachsida, por sua vez, não vê uma explosão do desemprego após o fim do pagamento do auxílio emergencial, nem depois do término do acordos de redução salarial. A expectativa do secretário é que a economia ganhe tração suficiente para reabsorver esses trabalhadores no início do próximo ano. Por isso, ele acredita que a taxa de desemprego vai cair em 2021.
O secretário de política econômica admitiu, por sua vez, que será importante estimular a geração de empregos no pós-pandemia. E a saída para isso, no entendimento de Sachsida, está na redução do custo da contratação e na flexibilização de algumas regras trabalhistas, como a proibição do trabalho aos domingos.
"Se tem um trabalhador que quer trabalhar no domingo e uma empresa que quer contratar, por que não pode? Esse tipo de conversa vai ser endereçada no momento adequado junto ao Congresso Nacional porque nós vamos precisar criar mais emprego e temos que diminuir os custos associados à contratação. E esses custos nem sempre são fiscais, são custos de burocracia porque conta de uma legislação que nem sempre é adequada", defendeu.
Ele disse que, segundo os estudos da SPE, a redução de 10% dos custos de contratação podem aumentar em até 8% o emprego formal entre os trabalhadores de baixa qualificação profissional. No mercado de trabalho como um todo, o emprego formal subiria 3%.
Ainda não há, contudo, um consenso entre o Executivo e o Legislativo sobre a desoneração da folha de pagamentos, que hoje representa boa parte desse custo trabalhista. Afinal, o Congresso quer garantir a desoneração nos setores que mais empregam no país, mas vê com restrições a proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes, de bancar essa desoneração com um imposto similar à antiga CPMF.