Fora da equipe econômica há três meses, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, acredita que o Renda Brasil não deve sair do papel, pelo menos neste ano. Ele acha que o Bolsa Família vai crescer, para atender a parte dos invisíveis que foram descobertos pelo auxílio emergencial. Porém, diz que o programa não deve dobrar de tamanho porque Jair Bolsonaro não aceitará derrubar o teto de gastos ou fazer uma grande revisão das despesas já previstas no Orçamento para isso. Caio afirma que o presidente da República confia no ministro da Economia, Paulo Guedes, e entendeu a importância de dar previsibilidade às contas públicas. Por isso, pode deixar para depois o plano de criar um novo programa social.
Na sua avaliação, o risco fiscal será controlado neste ano?
Vejo um período gradual de descompressão do risco fiscal até o primeiro semestre do ano que vem. O risco vinha crescendo, e ficou agudo no dia dos precatórios. Mas, quando passar a eleição, e ficar revelado que o plano do governo é manter o teto de gastos, fazer um ou outro ajuste no Bolsa Família mas dentro do limite do teto, isso vai aliviar bastante.
É possível criar o Renda Brasil dentro do teto?
Dá, mas não acho que vai ser feito no curto prazo. Acho que pode ser feito um pouquinho, aumentar em uns R$ 5 bilhões o Bolsa Família. Mas, a ideia de dobrar o Bolsa Família requer mudanças em temas que o presidente já disse que não quer mexer. Então, minha impressão é de que ele prefere manter o teto de gastos e não ter o aumento do Bolsa Família. São três opções: deixar como está, acomodar o Bolsa Família aumentando o teto de gastos ou acomodar o Bolsa alterando despesas relevantes. Eu acho que fica como está. Podem mexer uma coisa ou outra no abono salarial para aumentá-lo um pouquinho. Mas, acho que uma reestruturação mais profunda dos programas sociais, uma desindexação do salário mínimo e da Previdência, o presidente não topa.
Desistir do Renda Brasil agora não seria ruim para a popularidade de Bolsonaro? Por que o presidente tomaria essa decisão?
O impacto vai depender da recuperação da economia. Parte da decepção da saída do auxílio é compensada pela economia voltando a funcionar. O presidente confia na avaliação de Guedes de que a mudança no teto poderia ser contraproducente do ponto de vista de crescimento econômico, distribuição de renda, aumento de juros, aumento de inflação, depreciação do câmbio –– o efeito colateral em relação à economia de uma mexida no teto. O ministro Guedes conseguiu mostrar isso. E o presidente confia muito no ministro.
Mas esse debate volta depois?
O debate vai continuar sempre por aqui, conforme vai passando o tempo e amadurecendo a necessidade de ajuste das demais despesas.