O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) volta a se reunir hoje para deliberar sobre o rumo da taxa básica de juros (Selic). E a expectativa em torno do comunicado desta reunião é grande. Afinal, a inflação vem subindo mais fortemente que o esperado e as incertezas sobre a condução da política fiscal continuam. O mercado acredita que a Selic será mantida na mínima histórica de 2% ao ano nesta reunião, mas já vê uma pressão pelo aumento dos juros em 2021 e está de olho no recado que será deixado pelo Copom.
Na avaliação do mercado, o cenário desta reunião é delicado. É que o Copom segue preocupado com o rumo dos gastos do governo, tanto que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já avisou várias vezes que “não há como ter inflação e juros baixos com o fiscal desorganizado”. Disse, inclusive, que uma “contabilidade criativa” que piore o perfil da dívida pública faria o Copom abandonar a política de responder às expectativas do mercado sobre o provável curso dos juros — cuja prescrição atual é de que sejam mantidos baixos. E, agora, também se vê diante de uma inflação crescente.
Campos Neto vinha dizendo que o BC está “absolutamente tranquilo” com a alta dos preços, já que as perspectivas de inflação continuam dentro da meta e a alta dos alimentos apresentava-se como um choque temporário. Porém, pelos últimos dados de inflação, a indicação é de que essa subida pode contaminar a inflação do próximo ano. A prévia de outubro, por exemplo, bateu 0,94%, o maior resultado para o mês desde 1995, e mostrou que os alimentos não são mais os únicos vilões –– o que leva o mercado a revisar as projeções.
Para 2020, os analistas subiram a da inflação de 2,65% para 2,99%, mas mantiveram a Selic em 2% no Boletim Focus desta semana. Para 2021, elevaram de 3,02% para 3,10% a projeção e reajustaram a taxa básica de 2,5% para 2,75%. A expectativa ainda é que esse ajuste nos juros seja feito ainda no primeiro semestre do próximo ano, mas já há a possibilidade de ser antecipado se a inflação e o risco fiscal saírem do controle nos próximos meses.
Assim, o mercado espera que o Copom revise suas perspectivas de inflação, que hoje apontam para uma alta de preços de 2,1%, em 2020, e de 3% para 2021, e dê um recado mais claro do impacto do cenário sobre a taxa básica nos próximos meses.
Economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez explicou que o Copom não deve mexer na Selic agora, nem na política de indicação futura dos juros porque a inflação continua dentro da meta — de 4% neste ano e de 3,75% para o próximo. “A pressão inflacionária parece ser transitória. Mas o fiscal será um ponto preponderante. Por isso, o comunicado pode pontuar isso de maneira mais sistemática”, observou.