Vem aí o vinho brasiliense

CB.Agro Ronaldo Triacca/ presidente da AgroBrasília e produtor de vinho


Brasília agora produz vinho?
Tudo começou quando conhecemos uma tecnologia chamada dupla poda ou poda invertida, desenvolvida pela Epamig, empresa de pesquisa em Minas Gerais. Essa tecnologia consiste em inverter o ciclo da videira. Nas regiões tradicionais de vinhos finos, geralmente se produz no verão. E aqui nós produzimos no inverno. Essa é a grande sacada dessa tecnologia. Fizemos a primeira poda em outubro. Em março, faremos a segunda poda. Aí sim, teremos um “terroir”, uma das melhores condições climáticas do mundo para se produzir vinhos finos.

Mesmo com a seca?
É exatamente por causa da seca. Estamos a mil metros de altitude, o que é muito bom para a produção de vinhos finos. O fator principal é que o clima sem chuva é muito bom, porque a videira sofre muito com a chuva, com doenças fúngicas. O cacho, quando chove muito, acumula água e perde teor de açúcar. Consequentemente, o vinho fica menos alcoólico, não tão consistente e potente. De maio a agosto, nós temos amplitude térmica muito favorável para vinhos finos. Quanto maior a amplitude, melhor é para se produzir uma uva de qualidade. Em Brasília, na região do PAD-DF, nós temos uma mínima de seis graus, e uma máxima de 28 graus.

O vinho já está em produção?
Em 2018, fizemos uma colheita teste. Elaboramos o Seu Claudino Syrah, que é o primeiro vinho fino de Brasília. O vinho não foi lançado ainda por causa da pandemia. É um vinho com potencial de guarda, pode deixar envelhecendo na garrafa. Para a safra de 2020, fizemos uma produção maior, produziremos entre 1.600 e 1.700 garrafas. Mas aí não só a Villa Triacca, mas outros sócios. Estamos falando da vinícola Brasília.

O senhor já tem a vinícola na sua propriedade?
Não. A parte mais cara dessa atividade é a vinícola. Em dez amigos, criamos uma empresa para construir essa vinícola. Estamos nisso há um ano e meio e começamos a obra. Tenho certeza de que o turismo de Brasília não será mais o mesmo após essa vinícola ficar pronta. A Villa Triacca já produziu; a (Fazenda) Ercoara Cordeiro e Vinho já produziu até uma quantidade maior do que nós este ano – Syrah, também. E outro produtor é a Toscana do Cerrado. Dos 10 produtores, é a única que fica um pouco distante do PAD-DF. A Secretaria de Turismo e o Ministério da Agricultura estão nos ajudando para criarmos a rota do vinho.

Então, o quadradinho vai ter o seu vale dos vinhedos?
A gente confia muito nisso. Quase todas as propriedades já plantaram seus vinhedos – não só Syrah. Vai ser a uva ícone dessa região, mas já estamos implantando a uva Pinot Noir, Cabernet Franc, Malbec, Cabernet Sauvignon. No ano que vem, está entrando Tempranillo, Touriga (uva nacional). Todas essas castas vão muito bem aqui. Nas uvas brancas, já plantamos a Sauvignon Blanc. E a Viognier, uva branca francesa, que dá para produzir vinhos brancos e espumantes.

Há um plano turístico, então?
Sim. A ideia é praticar o enoturismo. Somos todas pequenas vinícolas, com produção de 250 mil garrafas por ano. Estudos internacionais comprovam que pequenas vinícolas podem comercializar toda a produção praticando o enoturismo. Essas 10 propriedades já estão se preparando com paisagismo, estrutura. Em dois anos, com essa rota do vinho criada, os turistas e os brasilienses poderão visitar duas ou três propriedades para degustar os vinhos. Cada produtor terá entre cinco e seis rótulos. Então, teremos uma grande variedade. Mas, a vinícola também terá o seu blend, um corte de 10 Syrah. Deve ficar um vinho bem interessante.

A vitivinicultura é mais uma potencialidade do PAD-DF?
A vitivinicultura está entrando bem pequenina. O PAD-DF é conhecido mundialmente pela produção de grãos — e pela alta tecnologia. A região é uma das mais diversificadas do mundo, tudo com alta tecnologia. Temos um dos melhores trigos do mundo sendo produzidos em Brasília. O café também foi premiado. É um produtor de Sobradinho.