INDICADORES ECONÔMICOS

PIB brasileiro deve encolher 4,2% em 2020, projeta CNI

Informe Conjuntural, que também analisa emprego, juros, câmbio e inflação, mostra que o ritmo de crescimento da economia será forte no terceiro trimestre do ano

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê crescimento de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, no terceiro trimestre, em relação aos três meses anteriores, devido à forte recuperação da economia entre julho e setembro. O PIB industrial deve crescer 10% nessa mesma comparação. A retomada da indústria, porém, não será capaz de reverter a queda anual na quantidade de bens e serviços produzidos no país. 

Os dados constam do Informe Conjuntural da CNI, divulgado nesta quarta-feira (21/10). A previsão para o PIB industrial é de queda de 4,1%. O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, explicou que a recuperação da crise está sendo rápida, mas não se pode confundir recuperação dos efeitos da crise com retomada do crescimento econômico.

Para ele, o crescimento acima do patamar pré-covid-19 não está garantido. “A redução progressiva dos estímulos fiscais do período da pandemia tornará visível as barreiras estruturais que o país enfrenta. Sem avanços na agenda de reformas, em especial da tributária, a economia brasileira não sairá da armadilha da renda média”, disse.

Conforme a CNI, quando foi atingida pela pandemia, a economia brasileira ainda não tinha reencontrado o caminho do crescimento e acumulava queda de mais de 6% do PIB em dois anos, 2015 e 2016, registrando expansão pouco superior a 1% nos anos seguintes. A produção industrial está estagnada desde 2010. Porém, os últimos meses do ano devem seguir em trajetória de recuperação do emprego.

A expectativa é que o segundo semestre mostre retomada do emprego até novembro. "Dezembro normalmente registra saldo líquido negativo de empregos, o que vai fazer com que o resultado anual de empregos com carteira não se afaste muito do resultado acumulado até agosto, de cerca de 850 mil postos de trabalhos fechados", projeta a CNI.

O retorno de parte mais expressiva da população à força de trabalho deve fazer com que a taxa de desemprego suba. Apesar disso, a CNI estima que mais pessoas consigam se reinserir no mercado de trabalho e estima que a taxa média de desocupação fique em 13,5%, em 2020, 1,6 ponto percentual acima do registrado em 2019, quando alcançou 11,9% da força de trabalho.

Spread bancário

O Informe Conjuntural aponta que o spread bancário (diferença entre o custo do dinheiro para o banco e para o tomador de crédito) e as taxas de juros do setor financeiro bancário acompanharam o movimento queda da Selic. O spread bancário para pessoa jurídica caiu de 9,6 pontos percentuais, em janeiro, para 6,9 pontos percentuais, em julho. E a taxa de juros para a pessoa jurídica saiu de 14,8% ao ano para 10,7% ao ano, na mesma base de comparação.

Entre os motivos estão os programas emergenciais, estruturados por meio do compartilhamento de risco de crédito. Além disso, na avaliação da CNI, a interrupção do afrouxamento monetário será mantida nas próximas duas reuniões, de outubro e dezembro, e a taxa básica de juros encerrará 2020 em 2% ao ano.

Inflação abaixo da meta

A CNI avalia que os próximos meses não devem trazer risco de descontrole inflacionário que possa ameaçar o alcance da meta de inflação no ano. Entretanto, há sinais de alerta na dinâmica dos preços no varejo em função da aceleração já registrada nos preços ao produtor. O estudo da CNI também aponta que o real é a moeda que mais se depreciou no período mais agudo da crise entre emergentes. Entre janeiro e maio de 2020, o real teve a maior queda, 23,9%, frente a uma cesta ampla de moedas, segundo dados de taxa de câmbio real efetiva do BIS (Bank for International Settlements). Ao lado do real, se destacaram com as maiores depreciações as moedas de outros emergentes: México (-18,0%), África do Sul (-17,7%) e Rússia (-10,2%).

“Diante do quadro de recessão mundial projetado para 2020, com recuos de 4,9% da economia mundial e de 11,9% do comércio mundial de bens, segundo o FMI, o horizonte para as exportações brasileiras é de dificuldades até o fim do ano, em especial para a indústria”, afirma a entidade. “O melhor desempenho das exportações de produtos básicos não será forte o suficiente para evitar a queda das exportações frente a 2019. As importações, por sua vez, devem se manter em queda na comparação com o ano passado, considerando a queda esperada para a atividade doméstica no ano.”

O saldo da balança comercial de bens esperado para 2020, segundo estimativa da CNI, é de US$ 56,4 bilhões, com recuo das exportações de 6,5%, para US$ 210,7 bilhões e das importações de 13%, para US$ 154,3 bilhões.

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