Sem espaço no orçamento para realizar grandes investimentos públicos, o governo brasileiro estuda fazer "roadshows" — sequência de eventos setoriais — e criar um mecanismo de proteção cambial para tentar atrair investimentos estrangeiros para o país. A informação é do ministro da Economia, Paulo Guedes, que participou de mais um evento sobre as oportunidades de negócio entre o Brasil e os Estados Unidos nesta terça-feira (20/10).
Antes de encontrar a comitiva norte-americana que está no Brasil, Guedes participou de uma videoconferência com investidores do Milken Institute. Na ocasião, ele disse que o Brasil acredita que "a recuperação econômica virá pelo setor privado". Ele explicou que a iniciativa privada tem mais recursos disponíveis para investimentos do que o governo brasileiro e citou, como prova disso, o grande volume de IPOs (oferta inicial de ações) que vem sendo realizado na bolsa de valores brasileira.
Por conta disso, Guedes disse que o governo brasileiro está fazendo o seu dever de casa para tentar melhorar o ambiente de negócios no Brasil. E, agora, deve fazer um roadshow para tentar atrair os investidores estrangeiros. "Estamos tentando trazer os investimentos estrangeiros", afirmou, sem dar detalhes de como seria esse roadshow.
O ministro da Economia foi questionado, contudo, sobre os riscos e as incertezas que hoje têm afastado os investidores estrangeiros do Brasil. Ele revelou, então, que o Ministério da Economia e o Banco Central estão trabalhando em um mecanismo de hedge cambial para tentar proteger os investidores de variações cambiais abruptas e expressivas.
Guedes ainda admitiu que a alta do dólar e o aumento da curva longa de juros estão relacionados à preocupação do mercado sobre os gastos futuros e o rumo das contas públicas brasileiras. Aproveitou, então, para alfinetar novamente os ministros que já chamou de fura-teto. "Muitos ministros querem deixar seus nomes em grandes obras", afirmou. Porém, garantiu que o governo está de olho no cumprimento do teto de gastos e, por isso, não deve prorrogar os auxílios emergenciais criados na pandemia.
Guedes ainda assegurou que, apesar das recentes discussões sobre a possível volta da CPFM, o governo brasileiro não vai aumentar a carga tributária. Porém, lembrou que pretende taxar os dividendos que hoje são isentos no Brasil, após reduzir os encargos que hoje incidem sobre as empresas. Seria uma forma, segundo Guedes, de simplificar o sistema brasileiro e até deixá-lo mais parecido com o dos Estados Unidos.
"Estamos de volta às reformas, o Congresso está trabalhando", acrescentou. E lembrou que, além das reformas, estão na pauta do Congresso pautas como os novos marcos regulatórios do gás, da cabotagem e da energia. Para Guedes, aprovar essas pautas é importante para dar mais clareza e segurança jurídica ao ambiente de negócios brasileiros, pois, hoje, um dos riscos enfrentados pelos investidores é o risco regulatório.
Meio ambiente
A conversa com os investidores americanos, contudo, não prosseguiu de forma tão amigável quando o assunto foi o meio ambiente. Guedes foi questionado sobre a preocupação internacional em relação à política ambiental brasileira. Porém, voltou a minimizar essas críticas e alegou que o Brasil é um país verde — inclusive na bandeira —, que está preocupado com a Amazônia e com a população indígena.
"Ninguém no mundo foi tão generoso com os índios do que o Brasil", chegou a dizer Guedes. Ele alegou que, hoje, os índios representam menos de 0,5% da população brasileira, mas têm a posse de cerca de 14% do território nacional. E disse que ninguém dá tantas terras aos índios quanto o Brasil.
Guedes repetiu que os generais brasileiros não são como o general americano George Custer, que se envolveu em uma guerra contra os indígenas. O comentário foi cortado, mesmo que em tom de brincadeira, pelos americanos.
O ministro também minimizou as críticas europeias. E disse que, ao invés de só criticar, os europeus deveriam vir ajudar o Brasil a implantar um modelo de desenvolvimento sustentável na Amazônia. Ele lembrou que o Brasil tem dificuldades para fiscalizar toda a floresta, dada sua dimensão. Mas disse que o país quer ajuda para transformar Manaus na capital mundial da bioeconomia.