ACORDO MERCOSUL-UE

Para analistas, só nova postura salva tratado

O governo brasileiro busca apoio para tentar destravar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Porém, na avaliação de especialistas, não vai conseguir esse feito apenas com negociações bilaterais, como fez a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em Portugal, nesta semana. Para isso, será preciso dar sinalizações mais claras de que está preocupado com a preservação ambiental e com a contenção das queimadas que hoje destroem o Pantanal e a Amazônia.

Após dois dias de reuniões com autoridades e empresários portugueses, Tereza Cristina disse, ontem, que recebeu várias demonstrações de apoio ao acordo, inclusive da ministra da Agricultura, Maria do Céu, e do ministro de Internacionalização de Portugal, Eurico Brilhante. “Portugal, desde o início, tem uma posição clara pela ratificação do acordo”, declarou.

Especialistas ouvidos pelo Correio, no entanto, avaliam que o governo brasileiro precisa dar demonstrações mais claras de compromisso com o meio ambiente. Afinal, o tratado precisa ser aprovado pelos parlamentos e pelos governos dos 31 países envolvidos na negociação e tem gerado preocupação em representantes importantes da União Europeia.

“Alguns países, como França e Holanda, são contrários à ratificação do acordo, sendo a posição do governo Bolsonaro em relação ao meio ambiente a principal variável nessa equação. O acordo vem sendo usado para pressionar o governo brasileiro a mudar sua postura em relação a essa pauta”, avaliou a cientista política e professora do Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Administração da UFRJ, Ariane Roder.

“O Brasil precisa tomar uma atitude política e rever toda política de proteção ambiental, com dados mais concretos e com posições mais definidas, para reverter a opinião pública europeia”, avaliou o economista e professor em Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing São Paulo (ESPM), Leonardo Trevisan.

Ariane acrescentou que o alinhamento com Portugal pode ajudar a “diminuir resistências na União Europeia e abrir novos canais de diálogo”. Mas disse que, ainda assim, “cabe ao governo brasileiro uma postura mais amigável, que busque diminuir os conflitos causados, recentemente, com algumas lideranças de países muito relevantes no bloco”.

*Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo