A inflação para a população idosa foi maior do que a registrada para as demais faixas etárias no terceiro trimestre de 2020 e tende a terminar o ano acima dessa média. É o que apontou o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i) divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele mede a variação da cesta de consumo de famílias compostas, em sua maioria, por pessoas com mais de 60 anos. No último período estudado, o índice subiu 1,93% e foi para 4% em 12 meses — diferente da publicação anterior, em que houve deflação de 0,03%.
O resultado é maior do que o registrado no Índice de Preços ao Consumidor — Brasil (IPC-BR), que faz a medição da cesta de compras para todas as faixas etárias. Este indicador teve alta acumulada de 3,62% em 12 meses. Para André Braz, coordenador do IPC do Ibre/FGV, é importante medir a variação em produtos mais consumidos por idosos porque a sociedade está envelhecendo e esse grupo percebe inflação acima da média.
“O desafio da terceira idade são os gastos com saúde. À medida que a gente envelhece, medicamentos e planos de saúde aumentam de peso na nossa cesta de consumo. O IPC-3i oferece a oportunidade de mapear aqueles produtos e serviços que são essenciais para a terceira idade. A gente personaliza a inflação, é uma oportunidade de dar destaque ao custo de vida de um grupo social que aumenta na sociedade”, pontuou.
Braz ressaltou, que, na área de saúde, a suspensão, até dezembro, dos reajustes dos planos de saúde, determinada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aliviou o bolso dos mais velhos e evitou uma alta maior na inflação. Mas os medicamentos ficaram mais caros. “É um peso a menos (a suspensão do reajuste). Se não fosse esse adiamento, a inflação do idoso teria avançado mais. E como é um serviço que tem muito peso, foi uma âncora. Mas os medicamentos subiram muito de preço”, afirmou.
Entre os setores com maior inflação, segundo a FGV, está o de transportes, com 2,89% no terceiro trimestre, com altas expressivas em gasolina e passagens aéreas. As demais áreas foram educação, leitura e recreação (4,65%); alimentos (2,74%); habitação (1,72%), e despesas diversas (0,86%). Já o setor de vestuário teve queda de 0,73%.
Braz também explicou que, em um contexto em que a moeda brasileira se desvaloriza por causa da crise, abre-se espaço para mais exportação, pois o país é grande produtor de alimentos. Com o dólar alto, o produtor brasileiro pode lucrar mais e passa a concentrar seus esforços na produção para a exportação. “Essa exportação, apesar de ser boa para o Brasil, porque melhora a condição da balança comercial, por outro lado é ruim, porque desabastece o mercado brasileiro. Sobra menos produtos para as famílias aqui. Isso provoca aumento de preços”, explicou.
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo