Influenciado pelo auxílio emergencial e pela alta de preços dos alimentos, o varejo brasileiro não só deixou para trás os prejuízos acumulados na pandemia da covid-19, como alcançou um patamar recorde de vendas em agosto deste ano. O feito foi conquistado após quatro meses consecutivos de recuperação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta quinta-feira (8/10) pelo IBGE, mostram que o varejo brasileiro cresceu 3,4% em agosto, na comparação com julho. A alta vem depois de crescimentos de 12,7%, 8,8% e 5% em maio, junho e julho, respectivamente. Por isso, compensou as perdas de -2,4% e -16,7% sofridas em março e abril, quando boa parte do comércio brasileiro precisou fechar as portas devido às medidas de distanciamento social necessárias ao combate ao novo coronavírus. E ainda levou as vendas do comércio ao melhor nível da série histórica da PMC, iniciada em 2000.
Segundo o IBGE, em agosto, as vendas do varejo brasileiro ficaram 2,6% acima do recorde anterior, observado em outubro de 2014. Com mais esse crescimento, o varejo brasileiro também já está 8,9% acima do nível observado antes da pandemia e passou a acumular um saldo positivo de 0,5%, no acumulado dos últimos 12 meses. Comparando agosto de 2020 com agosto de 2019, o saldo é positivo em 6,1%. No acumulado do ano, contudo, o resultado ainda é negativo em -0,9%.
“O varejo, em abril, teve o pior momento, com o indicador se situando 18,7% abaixo do nível de fevereiro, período pré-pandemia. Esses números foram sendo rebatidos nos meses seguintes, até que, em agosto, o setor ficou 8,9% acima de fevereiro”, contou o gerente da PMC, Cristiano Santos.
Para Santos, o bom desempenho é fruto do auxílio emergencial, que tem ajudado a manter a renda e o consumo de milhões de brasileiros de baixa renda, mas também pela alta de preços, sobretudo dos alimentos. “Os produtos de supermercados têm uma elasticidade alta, um arroz mais caro é substituído por outro mais barato, mas o consumidor continua comprando. Os supermercados continuam próximos da margem, mesmo em queda, não sentem tanta diferença quanto em outras atividades”, explicou.
Setores
De acordo com o IBGE, cinco das oito atividades varejistas tiveram alta em agosto deste ano, na comparação com julho. O destaque foi das vendas de tecidos, vestuário e calçados, que avançou 30,5%. Mas também houve alta na comercialização de outros artigos de uso pessoal e doméstico (10,4%), móveis e eletrodomésticos (4,6%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (1,5%) e combustíveis e lubrificantes (1,3%).
As vendas dos hiper e supermercados recuaram 2,2% na comparação com julho. Porém, como dispararam no início da pandemia, têm um crescimento de 5,6% no ano. O mesmo acontece com as vendas de artigos farmacêuticos, que caíram 1,2% em agosto, mas cresceram 5,5% no ano.
A recuperação também foi sentida no varejo ampliado, que considera as vendas de veículos (8,8%) e materiais de construção (3,6%), só que com menos intensidade. Nesse caso, o crescimento foi de 4,6% em agosto. Na comparação com agosto de 2019, contudo, a alta foi de 3,9%. No acumulado do ano, o saldo é negativo em -5% e no acumulado dos últimos 12 meses, em -1,7%.